quinta-feira, 10 de setembro de 2020

Viriato Soromenho-Marques: Entre a normalidade e a salvação do planeta



Vale a pena ler a entrevista que Sílvia Júlio fez a Viriato Soromenho-Marques, publicada na edição do jornal Tempo Livre (nº 25, 2020-09, pp. 12-13), editado pelo INATEL (e disponível no seu "site", em acesso livre). Intitulada "Nós somos hóspedes do tempo", a entrevista incide sobre o actual momento, dominado pela pandemia, e o encontro de uma "normalidade" que seja consentânea com o planeta.

Entrevista de linguagem acessível, directa, quase como se estivéssemos a assistir a uma conferência ou aula sobre ética, com recurso a vários pensadores e tirando da História o que podem ser exemplos para o nosso 'saber estar', a conversa aborda a principal questão da nossa actualidade e da nossa preocupação de forma a envolver cada leitor na responsabilidade máxima. Uma leitura que se impõe.

 

Fica o registo de três momentos:

Normalidade - “Não estamos permanentemente preparados para o trágico, ou seja, para a possibilidade de acontecerem coisas terríveis - como acontecem. Temos de amaciar essa aspereza trágica da realidade, construindo a tal ‘normalidade’ (...) uma ficção, uma construção que fazemos para tornar a nossa vida mais suportável e menos angustiada. No fundo, é dar um padrão de certeza que, de facto, a vida não tem.”

Viver - “Os seres humanos não são donos do mundo, não são donos do tempo, não são donos do futuro. Nós somos hóspedes do tempo. A melhor forma de vivermos no tempo é percebermos as nossas limitações, porque nem os reis conseguem desfiar o destino. (...) Temos de aprender a viver aceitando a nossa falta de controle sobre a nossa própria vida. (...) O melhor sentido da vida que podemos retirar daqui é viver com autenticidade, intensidade e verdade o tempo que nos é dado viver.”

Técnica - “A nossa civilização já não acredita na ética, acredita na técnica. Como não queremos mudar o nosso comportamento, queremos mudar a forma como controlamos a realidade. E como é que fazemos isso? Com a tecnologia. E o mercado é a máquina de fazer tecnologia. Inventámos o mercado com as características modernas.”

Planeta (salvar o) - “Neste momento, o principal problema é salvar o palco da História: o planeta. Este é único - não conhecemos outro, nem no sistema solar, nem na galáxia. Tivemos uma sorte da qual não estamos a ser dignos. (...) Um dos grandes males que nos aconteceu foi a arrogância do controle, a arrogância do saber, a arrogância de que nós resolvemos tudo. Não podemos substituir a arrogância de um optimismo idiota por arrogância de um pessimismo sem esperança. Temos de ter um optimismo crítico, um optimismo activo, um optimismo transformador, um optimismo voluntarista. Temos de acreditar no futuro através de actos que acompanhem e realizem as palavras.”

1 comentário:

Unknown disse...

Palavras sábias a que o Professor já nos habituou numa linguagem fluente e acessível a todos.
Magnífico!