sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Castelo do Neiva - A comunidade piscatória retratada por Abel Coentrão



Há reportagens que nos surpreendem pela positiva. Aliás, deviam sempre surpreender, pois a reportagem é o caminho entre o jornalismo e a literatura, assim ficando sempre o desejo de que uma reportagem seja uma obra de arte, mesmo se pequena...
Hoje, ao ler uma reportagem do Público, de imediato me veio o nome de Raul Brandão por causa da sua obra Os Pescadores (1923). Estou a referir-me à peça que Abel Coentrão assina no “P2” de hoje, entre as páginas 1 e 3, intitulada “Em Castelo do Neiva há um barco chamado Esperança”.
A delicadeza e o conhecimento com que o repórter entra na peça é inebriante e denota uma boa preparação e sensibilidade. Fala-se das pessoas, dos seus problemas, da pesca, do papel das entidades, dos receios, da vida, daqueles que olham o mar tentando adivinhar-lhe a emoção, oscilando o vocabulário ligado ao mar com o sentimento, a descrição e o discurso reproduzido. Fala-se de um modo de viver, acreditando na esperança, jogando metaforicamente com o nome da embarcação.
É lindo de ler este texto de Abel Coentrão. E assalta logo a vontade de ir até à Pedra Alta, ali em Castelo do Neiva, olhar o rio (Neiva, claro) e o Atlântico, correr a memórias da infância em que, da praia da Amorosa, íamos à do Castelo para ver o movimento dos barcos e dos pescadores.
Creio que Raul Brandão, na sua obra Os Pescadores, não fala de Castelo do Neiva (não posso agora confirmar), muito embora escreva sobre a costa norte entre Caminha e Póvoa de Varzim. Mas, se fosse possível, Brandão iria agora ao Castelo, mesmo que fosse apenas para ver se Coentrão não o teria lido...

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