sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Gonçalo M. Tavares, “Uma Viagem à Índia”, canto V

* “Entre os astros só o sol fornece indícios sobre a época do ano: a lua provoca aos vivos o mesmo frio e a mesma luz no Inverno e no Verão.” (est. 2)
* “É instante a instante que se sobrevive: os momentos sucedem-se e ainda não morremos, eis tudo.” (est. 3)
* “São os homens e as mercadorias que conservam a estrada.” (est. 10)
* “Terra! (…) É uma coisa que do ar parece rara, porém a terra é suficiente para cobrir todos os homens depois de qualquer massacre, por mais extenso que este seja.” (est. 25)
* “Não dizer: sou grande, mas falta-me metade de tudo. Dizer, sim: falta-me metade de tudo, mas sou grande.” (est. 31)
* “Pese embora a tecnologia e, na pintura, os novos movimentos de vanguarda, a cor negra mantém-se distribuída pelo mundo.” (est. 61)
* “Para os acontecimentos, a torre de Babel não foi derrubada. / As línguas separaram-se, mas os gestos não. Vê um murro, o acto de penetração numa vagina ou em outros recantos, vê ainda o forte abraço ou o homem que no último momento salva quem está prestes a cair de um oitavo andar. Vê isto tudo e tudo entenderás, não é difícil.” (est. 71-72)
* “As coisas do mundo estão fortemente ligadas, sim, mas também fortemente desligadas. Sábio é aquele que percebe as duas forças; imbecil, o que não percebe nenhuma; assim-assim, o que percebe uma. E a democracia assenta nas inteligências assim-assim.” (est. 79)
* “Nada no percurso, no mundo, se faz sem peso; mesmo no ar o homem sabe que em breve regressa ao que pertence e, lá em baixo, o chama.” (est. 91)
Gonçalo M. Tavares. Uma Viagem à Índia. Alfragide: Leya / Caminho, 2010.

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