quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Professores e mudança de profissão

Quase 75 por cento dos professores mudavam de profissão se tivessem alternativa e 81 por cento admitem que, se pudessem, pediam a aposentação, mesmo com penalizações, segundo um inquérito a mais de mil docentes que será apresentado hoje.
Os resultados merecem a atenção com que se olha para todas as sondagens ou inquéritos. E, neste caso, o inquérito a cerca de um milhar de docentes, promovido pelo Observatório da Avaliação de Desempenho, criado pela Federação Nacional dos Sindicatos da Educação e pelo Instituto Superior de Educação e Trabalho, dá estes resultados, colhidos ao longo dos dois últimos meses.
A primeira observação que estes dados me merecem contém alguma ironia, porque, há anos, perguntando numa turma a alunos de 9º ano que profissões gostariam de ter, dois escreveram que... gostariam de ser aposentados. Fiquei perplexo com o rumo que uma sociedade poderia tomar...
Por outro lado, não faltará, com estes resultados, quem comente com um apressado e primário “se não estão bem…”! No entanto, mesmo que consideremos arrojados estes números, o certo é que o descontentamento ainda aí e não se vislumbra maneira de o arredar. E não é por uma questão de exigência de regalias; é mais por se ver que, na educação, se está sozinho, rodeado de muitos interesses que não os da educação ou da formação; é mais por se ver que foi cavalgada a onda da desconsideração sem necessidade; é mais por se ver que a eficácia das políticas não é aquilo que elas mesmas apregoam.
Para se falar de projecto de sucesso nas escolas não é preciso desconsiderar ninguém; basta dar à escola a importância que ela tem que ter, valorizá-la. Para se falar de avaliação de desempenho docente, não é preciso encetar uma contenda ou uma guerra ou lá o que queiram chamar-lhe; basta assumir a avaliação como uma ferramenta necessária à melhoria das práticas e à dignificação da escola, dos profissionais e dos utentes.
Ora, não tem sido isto que tem acontecido, apesar da demagogia dos discursos que têm acompanhado todo este movimento de desgaste e de caça a culpados. O prestígio que se exige não é para ser usado em termos pessoais; é para ser utilizado em prol da sociedade e da escola, em prol de valores interessantes e importantes para o bem-estar. O respeito que se reivindica não é para criar privilégios; é para que a escola seja olhada com seriedade e sem que ela sirva para a instrumentalização feita pela política, pelo caciquismo ou pelo favor concedido aos correligionários.
Nada disto tem acontecido. E, paralelamente, os problemas que têm sido impeditivos de alguns rasgos de autonomia, de maior qualidade na educação, mantêm-se. “E os portugueses sabem isso”, para usar uma frase muito do agrado do Primeiro-Ministro, independentemente do que ela queira dizer…
E, já agora, quanto à avaliação de desempenho e ao seu estado, que credibilidade me pode ela oferecer, a mim, que nela terei que participar, se, depois de ter sido apresentada pelo ângulo de um modelo de exigência, em cada dia que passa leva com uma onda de simplificação, de alteração, de mudança de rumo? Não seria, de facto, melhor interromper a marcha em abono da credibilidade (naturalmente, para a retomar logo que haja consenso e caminho iluminado)? Obviamente, a (in)satisfação na profissão não é um drama; mas também não é uma coisa boa. Para ninguém. Na escola, que o digam os alunos (quando têm o azar de sentir um professor pouco motivado ou interessado); na sociedade, que o digamos todos!

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