quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Gabriel García de Oro: "Storytelling", o saber que as histórias desvendam


Terão as histórias efeito mágico? Poderão elas integrar uma rede responsável pelo reforço relacional, um poço de saberes úteis para a vida e para os sistemas a que pertencemos?
Lê-se Storytelling, de Gabriel García de Oro (Lisboa: Gestãoplus Edições, 2011), e regressa-se ao tempo em que as fábulas e as pequenas histórias povoavam o nosso imaginário. Com uma diferença: na infância pretendia-se criar um mundo mágico, universo infantil povoado por seres extraordinários, com algumas moralidades que eram entendidas de imediato mas cujo alcance ficava para um futuro; agora, as conclusões constituem o mais importante nicho que rodeia as histórias, anedotas umas, episódios verdadeiros ou verosímeis outros, narrativas da antiguidade e de livros sagrados ainda outras, quadros banais e quotidianos alguns. O subtítulo do livro, “A Magia das Palavras”, valoriza a força do verbo; o balão promocional que se lhe segue apresenta o género – “fábulas, anedotas e histórias dos melhores MBAs”.
São quase cinquenta histórias, que dão outros tantos capítulos, acompanhadas por comentários e moralidades, vocacionados para a orientação das relações no mundo do trabalho, da empresa, ou apenas para orientação na vida.
No final, um guia temático, metaforicamente chamado “Caixa de primeiros socorros da empresa”, serve como roteiro que alia cada uma das histórias a uma das áreas de intervenção abordadas – informação, segurança em si mesmo, preconceitos, ganhos, estratégia, sucesso, gestão de equipas, pensamento lateral / criatividade, gestão do tempo, gestão do poder, crises, atitude, planificação, males da empresa e negociação.
O livro é de leitura fácil, dada a curta extensão de cada capítulo e o facto de os comentários irem ao essencial. Torna-se eficaz e directo, surpreendendo o leitor pela pertinência das reflexões a partir de histórias por vezes banais ou que poderiam não ir além da anedota.
Um exemplo?
Quando ele e ela estavam a tomar banho, a campainha tocou. Acedendo ao pedido dele, foi ela quem se enrolou na toalha e se dirigiu à porta. Abriu, porque era pessoa conhecida, vizinho. Ao vê-la, disse-lhe que lhe daria mil euros se deixasse cair a toalha, oferta que fez a mulher pensar. A insistência foi até ao ponto de o vizinho exibir as duas notas de 500 euros. A tentação dominou-a e a toalha caiu. Ele contemplou a mulher, remirou-a, deu-lhe o valor prometido e despediu-se. Quando chegou à casa de banho, explicou ao marido quem tinha vindo bater à porta. “Ainda bem… Devolveu-te os mil euros que lhe emprestei?”, perguntou ele.
Todos somos levados a pensar, e com razão, que ela passou por uma situação ridícula. Mas só chegamos aí depois de conhecermos a pergunta final, isto é, apercebemo-nos do ridículo quando a mulher o sente também.
Que comentários suscita esta história ao autor? Todos vão no sentido da partilha da informação e da necessidade de se estar informado. E a conclusão de García de Oro é: “Partilhar e estar na posse de toda a informação necessária evita que nos exponhamos ao ridículo e que nos vejamos em situações de clara desvantagem.” Na tal caixa de primeiros socorros, esta história tem entrada em dois grupos – o da informação e o dos males da empresa.
A vantagem deste livro advém da força das curtas narrativas, que valem mais, muito mais, do que as largas considerações sobre as melhores formas de se agir.

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