quinta-feira, 3 de junho de 2010

Memória: João Aguiar (1943-2010)

O escritor João Aguiar interrompeu um livro que estava em escrita e partiu. Vários dos seus livros me impressionaram, mas deixei-me fascinar por A voz dos deuses – Memórias de um companheiro de armas de Viriato, obra publicada em 1984 (que só nesse ano teve quatro edições e, volvida uma década, teve adaptação a banda desenhada), romance histórico que nos coloca num tempo algo mítico, perante personagens não menos míticas, mas próximas pela sua humanidade.
Dos sublinhados de então, ficou-me, por exemplo, esta frase que Lobessa dizia a Tongio: “É incrível como os homens andam depressa quando pensam em guerra e em saque.” Coisa que já sabemos o quão perniciosa é há tanto tempo, mas que se mantém como prática...
Recentemente, consegui transmitir algum do fascínio da escrita de João Aguiar a alunos meus através desse conto que é “Verba volent, scripta manent”, inserido no primeiro volume de Prazer da Leitura (Lisboa: FNAC / Teroema, 2008). Até hoje, li esse conto a várias turmas e em todas o prazer de ouvir a história do jovem Gonçalo que acaba a encontrar-se na biblioteca do primo Jeremias foi notório. Como o título da narrativa recorre ao latim, há que o explicar, mas, antes disso, tenho pedido aos alunos que, de acordo com o ouvido, atribuam um título ao texto. E recordo a prontidão com que o Pedro, meu aluno em 2008, respondeu: “Castigo encadernado”.
Continuarei a ler João Aguiar nos romances históricos e nas crónicas que deixou e continuarei a passar o exemplo da personagem Gonçalo, que descobriu o fascínio da leitura num mundo onde não havia computadores, telemóveis, televisões, onde estava envolvido pela Natureza e por uma biblioteca de segredos.

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