“Aos oito dias do mês de Abril do ano de mil novecentos e vinte e quatro, reuniu-se na Farmácia Matos, na vila de Palmela, um grupo de amigos do Sport a fim de levar a efeito a organização d’um club de Foot-ball. Sendo nomeado para dirigir os trabalhos da organização d’este club o Sr. José Trajano Godinho de Matos, Higino Caetano, António Diniz Cardoso, como Presidente, secretário e tesoureiro. Sendo aprovado por unanimidade que este club ficasse com o nome de Palmelense Foot-Ball Club.” Este é o início da primeira acta das assembleias do clube palmelense, texto em que segue a lista das 82 pessoas que se inscreveram como sócios fundadores.
O documento cujo início se transcreve abre o livro Centenário Palmelense FC - Uma Vila, um Castelo, o Nosso Clube, coordenado por Ângela Camolas e Luís Pedro Mares, obra recente, que utiliza a fotografia (cerca de 220 imagens) como meio para testemunhar alguns momentos da história do grupo desportivo. Reproduzido é também o segundo documento fundador do clube — a autorização de funcionamento, dada pelo Governo Civil de Lisboa em 21 de Novembro de 1925 (na altura, Palmela pertencia ao distrito de Lisboa, pois não tinha ainda sido criado o de Setúbal).
O que sobressai das reproduções apresentadas (datadas do período entre 1931 e 2024) é a valorização das equipas desportivas, sejam elas do futebol, do ciclismo, do judo, do basquetebol ou do atletismo, nos diversos escalões, havendo algumas que mostram momentos importantes para a história e investimentos no clube — sorteio para a aquisição do prédio da sede (1932), construção e inauguração das bancadas (1963), compra do mini-autocarro (1982), participações na Festa das Vindimas, obras para a colocação do novo sintético (2015), inauguração do Centro Médico (2021) — e outras que dão conta de algumas das melhores classificações obtidas — equipa de juniores campeã da II Divisão da AFS (1973) e da I Divisão Distrital da AFS (1991), equipa de séniores campeã da I Divisão Distrital da AFS (1987 e 1992) e campeã distrital da II Divisão da AFS (2011) e os palmarés conquistados pelos iniciados, benjamins e juvenis (2023).
O livro vive também de alguns testemunhos registados, elucidativos do apego ao clube e do significado de ser seu membro, como são os casos de Aurita Ferreira (que chega a afirmar ser seu sonho “morrer a ver o Palmelense”), João Camolas (satisfeito por a vida o ter deixado viver o centenário do clube), Nicolau da Claudina (a relembrar episódios da compra do mini-autocarro), António José dos Santos (para quem o clube “é a mística de uma terra”), Hélder Paizinho (que manifesta a sua gratidão ao clube), António Júlio Caleira (com os seus mais de 500 jogos feitos), Luís Crispim (com dificuldade em descrever o que sentiu aquando da subida à 3.ª Divisão Nacional), Manuel Simões Baptista (que, aos 71 anos, no grupo de veteranos, garante defender a sua cor “com a mesma garra” de quando começou) e Armando Silva (sensibilizado pela atribuição do seu nome ao balneário da equipa principal).
Por estas páginas corre vida e entusiasmo de todos aqueles que, ao longo de um século, têm dado o melhor da sua emoção e esforço ao clube. Pena é, no entanto, que por estas páginas não passem duas listagens que cremos serem igualmente importantes para o que tem sido a afirmação do Palmelense FC: a das equipas dirigentes desde o seu início (pelo menos com as composições possíveis) e a dos palmarés conquistados.
A fechar esta quase fotobiografia sobre o centenário do Palmelense FC, surge a perspectiva do futuro, que parece estar garantida pela importância dada à formação infantil e juvenil. Foi o escritor Ruben A. (1920-1975) que deixou registado algures que a “bola é pássaro sem asas, aparece e desaparece”, frase obviamente poética que diz muito sobre a energia transmitida pelo jogo e sobre a sua importância para a vida. E, se dúvidas houvesse, as afirmações que encerram o livro são devidas a três jovens que explicam, em enunciados simples mas cheios de expressividade, a razão por que se ligam ao clube: “No Palmelense jogo à bola faço amigos sou feliz” (Vasco Barrocas), “Treinar e jogar com os amigos” (Diogo Charrão) e “Palmelense é vida” (Vicente Mares).
* João Reis Ribeiro. "500 Palavras". O Setubalense: n.º 1338, 2024-07-10, pg. 9.
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