quarta-feira, 27 de abril de 2011

Portugal ao contrário

Em Lisboa, na Praça dos Restauradores, na tarde de hoje

2 comentários:

  1. Porquê que Portugal está ao contrário?

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  2. Portugal ao contrário

    Como começar
    Aquilo que acabou?
    Como acabar
    Aquilo que não começou
    Triste fado o nosso
    Que nem a rezar pai-nosso
    Evite este alegre despiste
    O de ser ex-povo poeta
    Porque virou nobre pateta

    Ó meu Portugal
    Que me dás o dia inteiro
    A possibilidade de funeral
    E todos os dias de nevoeiro
    De afonsos sem dom
    Sem segundos nem penúltimos
    Porque agora sobes o tom
    De sermos os primeiros dos últimos
    Como cantar a tua glória
    Se só na derrota cantas vitória

    Deste destino não me livro
    De bruxedo e feitiçaria
    Narro-te em trovas de um livro
    Porque é negra a tua magia
    Desfeito dos teus feitos heróicos
    Que te dilataram a fé e o império
    Agora um punhado de paranóicos
    Armados em heróis a sério
    Cambado de panascos importantes
    Que além do mais são praticantes

    Já não acredito em querer
    Que um dia vá acreditar
    Na fé desse grande crer
    Que me possas salvar
    E me faças outra vez de novo
    Filho de gente que sente
    Gente de gente, gente do povo
    Do povo de nação valente
    E agora vai pior que mal
    Numa estupidez imortal

    Onde estão nossos irmãos
    Para onde fugiram nossos amores
    A quem dar as nossas mãos
    Num país de desertores
    Viraram-se ao contrário
    Fugindo à realidade
    Montados neste cenário
    Sem esperança na saudade
    E do amigo ficou o esboço
    Do inimigo a aperta o pescoço

    Ó Portugal da mensagem
    Já sem rosto de Pessoa
    De Camões sem linhagem
    Sem porto e sem Lisboa
    Virou fantasma o Viriato
    Sebastião um morto-vivo
    O teu povo no estrelato
    Tua pátria um nado-vivo
    E já nem o velho do restelo
    Te idolatra como camelo

    Foste castelos de tantas quinas
    De reis e governantes além-mar
    E agora desempenas esquinas
    Porque te esquivas do teu mar
    Foste o senhor de tanta guerra
    Em busca do além-mundo
    E agora enterras a tua terra
    Enterrando machado em peito fundo
    Que será de ti ó Portugal
    Que só em besta tu és bestial

    Reina e impera a estupidez
    Governa a avidez e a ganância
    E de olhos fechados já não vês
    Que a tua prol é ignorância
    Que a votar não vota bem
    Que a não votar vota mal
    Porque o voto é o voto de alguém
    Que não te vota Portugal
    São votos brancos, votos de chulos
    São tudo votos, votos nulos

    Canto-te assim ó fim d´império
    Numa poesia de raiva e dor
    Que te prova muito a sério
    O pouco de tão pouco amor
    E que te vê a desmaiar
    Em queda tornada coma
    Num hospício a tratar
    E à venda na vandôma
    A Europa desfigura-te o rosto
    E o teu vinho sabe a mosto

    Ó Portugal moribundo
    A afogar-se à beira-mar
    Destes mundos e mundos ao mundo
    Sem o mundo te nada dar
    Vais agora de vento em popa
    Restos cozidos-à-portuguesa
    Eis Portugal ao inverso
    Lagutrop do meu verso


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