No Público de hoje, há uma entrevista do professor Luís Valadares Tavares. Transcrevo uma parte, aquela que diz respeito ao que se vive nas escolas, em que o entrevistado fala sobre exigência, sobre a proposta de gestão de escolas que anda a ser discutida, sobre o mito (praticado) da autonomia, sobre as "Novas Oportunidades". As autoras da entrevista são Ana Fernandes (Público) e Raquel Abecassis (Rádio Renascença).
O programa Novas Oportunidades está a ter uma grande adesão. Não haverá um risco de massificação dos diplomas?
A ideia de aproximar a formação profissional da formação escolar e de dar novas oportunidades às pessoas é bondosa. Mas temos de ter muito cuidado em relação aos níveis de exigência e de qualidade. E os estudos internacionais continuam a demonstrar que os nossos alunos continuam no fundo da classificação.
Matemática é um caso paradigmático.
Pois é. O que eu acho preocupante é o país considerar isso normal.
Como é que se dá a volta à situação?
Os problemas resolvem-se, se eu assumir que há um problema. Iniciativas como as Novas Oportunidades são boas, se houver um clima de exigência maior. Costumo dizer aos meus alunos: escola fácil igual a vida difícil, escola difícil igual a vida fácil. A escola não deve ser fácil. A escola deve ser acolhedora, mas muito exigente, difícil. A escola tem de preparar as pessoas para a sociedade moderna. Mas no nosso país tem havido ideias muito erradas em relação a isto. Ainda há pouco tempo havia quem defendesse que os níveis de exigência deveriam ser definidos na escola, resultantes da interacção entre professores e alunos. Isto é uma patetice. Os níveis de exigência são os necessários para eles se prepararem para a competição global em que vão viver.
Como vê este novo modelo de gestão das escolas?
Esse modelo é muito parecido com um de 1991. Corresponde a ideias necessárias e desejáveis, desde que estejam adaptadas à realidade e aplicadas correctamente. Mas as nossas escolas devem ter mais autonomia, não faz sentido nenhum continuarmos com escolas com níveis de autonomia, responsabilização e iniciativa tão pequenos. Apesar de os governantes defenderem isso, continuamos a ver as escolas ainda sob muita influência das circulares que chegam das autoridades.
Isso também é uma forma de desresponsabilização das próprias escolas.
Claro. As nossas escolas, em muitos casos, têm níveis de funcionamento óptimos, mas a questão é quando surge um problema que depois não sabe resolver. A escola não pode viver num regime de piloto automático, como ainda hoje vive.
Os passos que têm sido dados por este Governo são significativos para essa mudança?
Não. Continuamos com um sistema educativo com muito pouca vida própria em cada escola, com modelos de gestão muito anquilosados, e com resultados muito deficientes.
A competição entre escolas é uma solução?
Sim. Acho péssimo que seja o Ministério da Educação a impor um método educativo às escolas. Estudámos escolas que tinham melhorado muito os seus resultados do 12º ano, que felizmente passaram a ser conhecidos. O que verificámos é que em todas tinha havido um acreditar que era possível fazer melhor. Consideraram que não era normal ter maus resultados e deram um murro na mesa. O espírito de competição é muito importante por isto. E os resultados melhoraram imenso. Isto é possível fazer com directivas do Ministério da Educação? Às vezes não sei se entidades como o Ministério da Educação não são mais parte do problema do que da solução.
Num país que não tem qualificações, como é que o desemprego entre os licenciados tem vindo sempre a aumentar?
Os investimentos que têm sido feitos em Portugal têm gerado pouco emprego qualificado. E às vezes os nossos licenciados não têm a formação adaptada às necessidades das empresas.
A ideia de aproximar a formação profissional da formação escolar e de dar novas oportunidades às pessoas é bondosa. Mas temos de ter muito cuidado em relação aos níveis de exigência e de qualidade. E os estudos internacionais continuam a demonstrar que os nossos alunos continuam no fundo da classificação.
Matemática é um caso paradigmático.
Pois é. O que eu acho preocupante é o país considerar isso normal.
Como é que se dá a volta à situação?
Os problemas resolvem-se, se eu assumir que há um problema. Iniciativas como as Novas Oportunidades são boas, se houver um clima de exigência maior. Costumo dizer aos meus alunos: escola fácil igual a vida difícil, escola difícil igual a vida fácil. A escola não deve ser fácil. A escola deve ser acolhedora, mas muito exigente, difícil. A escola tem de preparar as pessoas para a sociedade moderna. Mas no nosso país tem havido ideias muito erradas em relação a isto. Ainda há pouco tempo havia quem defendesse que os níveis de exigência deveriam ser definidos na escola, resultantes da interacção entre professores e alunos. Isto é uma patetice. Os níveis de exigência são os necessários para eles se prepararem para a competição global em que vão viver.
Como vê este novo modelo de gestão das escolas?
Esse modelo é muito parecido com um de 1991. Corresponde a ideias necessárias e desejáveis, desde que estejam adaptadas à realidade e aplicadas correctamente. Mas as nossas escolas devem ter mais autonomia, não faz sentido nenhum continuarmos com escolas com níveis de autonomia, responsabilização e iniciativa tão pequenos. Apesar de os governantes defenderem isso, continuamos a ver as escolas ainda sob muita influência das circulares que chegam das autoridades.
Isso também é uma forma de desresponsabilização das próprias escolas.
Claro. As nossas escolas, em muitos casos, têm níveis de funcionamento óptimos, mas a questão é quando surge um problema que depois não sabe resolver. A escola não pode viver num regime de piloto automático, como ainda hoje vive.
Os passos que têm sido dados por este Governo são significativos para essa mudança?
Não. Continuamos com um sistema educativo com muito pouca vida própria em cada escola, com modelos de gestão muito anquilosados, e com resultados muito deficientes.
A competição entre escolas é uma solução?
Sim. Acho péssimo que seja o Ministério da Educação a impor um método educativo às escolas. Estudámos escolas que tinham melhorado muito os seus resultados do 12º ano, que felizmente passaram a ser conhecidos. O que verificámos é que em todas tinha havido um acreditar que era possível fazer melhor. Consideraram que não era normal ter maus resultados e deram um murro na mesa. O espírito de competição é muito importante por isto. E os resultados melhoraram imenso. Isto é possível fazer com directivas do Ministério da Educação? Às vezes não sei se entidades como o Ministério da Educação não são mais parte do problema do que da solução.
Num país que não tem qualificações, como é que o desemprego entre os licenciados tem vindo sempre a aumentar?
Os investimentos que têm sido feitos em Portugal têm gerado pouco emprego qualificado. E às vezes os nossos licenciados não têm a formação adaptada às necessidades das empresas.
As Novas Oportunidade são uma forma de distribuir diplomas a custos baixos, cumprindo estatísticas. Acho que as Novas Oportunidades foram importadas como quase tudo o que consumimos, mas aqui sei que esses diplomas são fáceis de obter, lá fora não sei e sei também que o ensino nocturno tem os dias contados até Novas Oportunidades.
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