Da entrega do Prémio Nacional de Professores, ocorrido na terça-feira, não vi nem ouvi mais do que aquilo que os media passaram. Fiquei curioso e quis procurar os discursos da sessão. Consegui o da Ministra da Educação no “Portal do Governo” e uma coisa foi dita com acerto: quando a memória colectiva refere nomes de alguns professores que se tornaram conhecidos, há sempre a condicionante de esses nomes terem sido primeiramente conhecidos por outra acção que não a professoral, citando a Ministra os casos de Vergílio Ferreira, Lídia Jorge e Rómulo de Carvalho, entre outros. Bem podia ter citado o de Sebastião da Gama também, porque começou por ser conhecido como poeta, mas ficou também conhecido pelo facto de ter sido professor, haja em vista a experiência relatada no seu Diário e alguns (poucos) estudos que ao seu percurso de pedagogo se têm dedicado. Finalizou o discurso da Ministra com a apresentação de Daniel Sampaio, dizendo que iria ser uma intervenção sobre “as funções do professor na escola de hoje”. Procurei o discurso de Daniel Sampaio, mas não o consegui encontrar. Limito-me, por isso, àquilo que ouvi nos media e que li nos jornais (incluindo algumas versões on line).
Parece que foi logo no início da sua intervenção que o conhecido médico, que presidiu ao júri deste prémio, disse: "Gostaria que a atribuição deste Prémio marcasse um novo relacionamento entre o Governo e os professores". Estava então dado o mote para o “professor na escola de hoje”. O discurso terá sido crítico, a avaliar pelos excertos que passaram para o grande público. Um outro aspecto apresentado por Sampaio relacionou-se com a autonomia das escolas, perguntando: “Se o Ministério quer autonomia, então por que razão legisla tanto?” E, como consequência: “Os professores perdem tempo de mais a estudar despachos e portarias, o que seria mais bem gasto se fosse a pensar a sua actividade."
Ora acontece que estas duas linhas – a da excessiva legislação, não deixando à escola espaço nem tempo para se pensar e para se afirmar, e a da burocratização da profissão do professor, cada vez mais metido nos corredores dos papéis, dos impressos e das grelhas – são questões que já há muito têm encontrado eco nas críticas dos professores e das escolas. Apenas as estruturas não têm dado valor a estas observações. Mas, pelos vistos, também não pretendem passar a dar, a avaliar pelas reacções dos governantes – o único que comentou foi o Secretário de Estado Valter Lemos, dizendo: "Ficou claro que o professor Daniel Sampaio se referia a um mal-estar do ponto de vista geral e não a um mal-estar destes ou daqueles docentes. É um mal-estar docente internacional que também existe em Portugal." Não percebo onde está esta clareza, a acreditar no que a imprensa noticiou. Será que o voto de um “novo relacionamento entre o Governo e os professores” (como alvitrou Sampaio) encontra raízes num “mal-estar docente internacional que também existe em Portugal” (como quis sustentar o Secretário de Estado)? Chego a ter dúvidas sobre a relação do comentário com o discurso comentado… Na verdade, a margem que fica para os agentes da educação reflectirem sobre as suas práticas e para as melhorarem ou corrigirem é tendencialmente nula, fenómeno talvez (mal) explicado pela sereia da globalização ou por outro qualquer mito destes com que nos confrontamos nos tempos que correm.
Do Sebastião da Gama não se fala porque não interessa ao eduquês...
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