domingo, 25 de julho de 2010

Máximas em mínimas (59)

Lágrimas
"As lágrimas são um mapa pleno de significação e de leituras. Temos muitas maneiras de chorar e o modo como o fazemos revela não só a temperatura dos sentimentos, mas a natureza da própria sensibilidade. Ao chorar, mesmo na solidão mais estrita, dirigimo-nos a alguém: esforçamo-nos para que ninguém veja que choramos, mas choramos sempre para um outro ver. As lágrimas emprestam um realismo único, irresistível à dramática expressão de nós próprios. São um traço tão pessoal como o olhar ou o mover-se ou o amar."
José Tolentino Mendonça. "A sintaxe das lágrimas". O hipopótamo de Deus e outros textos.
Lisboa: Assírio & Alvim, 2010, pg. 22.

1 comentário:

  1. Lágrimas Ocultas

    Se me ponho a cismar em outras eras
    Em que ri e cantei, em que era querida,
    Parece-me que foi noutras esferas,
    Parece-me que foi numa outra vida ...

    E a minha triste boca dolorida,
    Que dantes tinha o rir das primaveras,
    Esbate as linhas graves e severas
    E cai num abandono de esquecida!

    E fico, pensativa, olhando o vago ...
    Toma a brandura plácida dum lago
    O meu rosto de monja de marfim ...

    E as lágrimas que choro, branca e calma,
    Ninguém as vê brotar dentro da alma!
    Ninguém as vê cair dentro de mim!

    Florbela Espanca, in "Livro de Mágoas"

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