domingo, 29 de junho de 2014

Para a agenda - Quando a poesia se encontra com a Arrábida...

 
 
Em 2002, António Mateus Vilhena e Daniel Pires publicavam, através do Centro de Estudos Bocageanos, a recolha A serra da Arrábida na poesia portuguesa.
Uma dúzia de anos passados, surge a 2ª edição, aumentada. Vai ser apresentada no salão nobre da Câmara Municipal de Setúbal por Viriato Soromenho-Marques, em sessão no dia 4 de Julho, pelas 21h30. Um evento a não perder. Para a agenda!
 


sábado, 28 de junho de 2014

Há cem anos, Gavrilo Princep inscreve o seu nome na História... e começa uma guerra

 
O dia 28 de Junho de 1914 caiu num domingo. Em Sarajevo, o arquiduque Francisco Fernando foi assassinado por uma série de coincidências e de acasos - depois de o atentado ter falhado, uma circunstância do acaso, o engano numa rua, levou o Arquiduque ao alcance da arma de um dos homens do complot... e Gavrilo Princep não hesitou: com dois tiros, acabou com a vida do Arquiduque e da esposa. Estava dado o primeiro passo objectivo para o que veio a ser a Grande Guerra, a Primeira Guerra Mundial.

Gavrilo Princep dispara sobre o herdeiro do império austro-húngaro, arquiduque Francisco Fernando

Gavrilo Princep é preso
 
No Congresso de Berlim de 1878, o prussiano Otto Bismarck afirmou que “a grande guerra europeia nascerá de qualquer disparate nos Balcãs”. Tendo falecido vinte anos depois, não chegou a ver que esse seu prognóstico viria a transformar-se em realidade. Se adivinhou isso, não conseguiu prever, contudo, que o resultado seriam dez milhões de mortos, que vários impérios submergiriam como consequência, que o conflito atravessaria os vários continentes.
Trinta anos depois deste vaticínio bismarckiano, em 5 de Outubro de 1908, as províncias da Bósnia e da Herzegovina eram anexadas à Áustria-Hungria pelo imperador Francisco José, decisão que gerou contestação a nível internacional e que provocou forte indignação na Sérvia, mesmo porque as populações da Bósnia e da Herzegovina eram, em parte significativa, sérvias.
O dia escolhido pelo arquiduque Francisco Fernando para visitar Sarajevo, dia de S. Vito, não foi o melhor – com efeito, em 28 de Junho de 1389, os sérvios tinham sido derrotados pelos turcos na batalha do Kosovo e essa data, além de constituir um dia de memória para os sérvios, era também o Dia Nacional da Sérvia. Assim, os conspiradores, afectos ao grupo Mão Negra, achavam que a conjugação dos acontecimentos era a possibilidade de a Bósnia se libertar do poder austro-húngaro e passar a integrar a Sérvia.
Na visita do arquiduque, o atentado falha, num primeiro momento, pois o responsável por atirar a bomba assassina falha apontaria e ela cai sobre uma outra viatura, tendo originado vários feridos. O arquiduque prossegue a visita e, depois das cerimónias, decide ir ao hospital visitar as vítimas. No trajecto, o motorista engana-se, entra numa rua sem saída e, ao tentar desfazer o lapso, surge Gavrilo Princep, do movimento conspirador, que, perante a oportunidade, não hesita e dispara sobre o arquiduque e sobre a mulher.
Francisco Fernando e Sofia de Hohenberg caíam e deixavam o caminho aberto para o conflito que duraria mais de quatro anos. Justamente catorze anos antes, em 28 de Junho de 1900, Francisco Fernando assinara um documento oficial em que declarava Sofia com sua esposa. Tristes coincidências!...
Gavrilo Princep foi preso e viria a morrer na prisão em 1918 por razões de falta de saúde. Simultaneamente, entrava na História, tornando-se herói para os sérvios. Cumpria a promessa que fizera a um amigo, Spiro Maric, quando adolescente: “um dia, as pessoas vão saber o meu nome.”
 


sexta-feira, 27 de junho de 2014

Dia da Língua Portuguesa, hoje


 
«En’o nome de Deus. Eu rei don Afonso pela gracia de Deus rei de Portugal, seendo sano e saluo, temẽte o dia de mia morte, a saude de mia alma e a proe de mia molier raina dona Orraca e de me(us) filios e de me(us) uassalos e de toido meu reino fiz mia mãda p(er) q(eu) depos mia morte mia molier e me(us) filios e meu reino e me(us) uassalos e todas aq(ue)las cousa q(eu) De(us) mi deu en poder sten en paz e en folgãcia. P(ri)meiram(en)te mãdo q(eu) meu filio infante don Sancho q(eu) ei da raina dona Orraca agia meu reino enteg(ra)m(en)te e en paz.»

Esta é a transcrição, da autoria do padre Avelino de Jesus Costa, do início daquele que é considerado o mais antigo documento oficial em língua portuguesa, assinado por D. Afonso II há 800 anos, em 27 de Junho de 1214. A transcrição integral pode ser lida aqui.
A ideia de transformar esta data no Dia da Língua Portuguesa partiu do investigador brasileiro Roberto Moreno e mereceu acolhimentos vários, bem como reprovações diversas, porque nestas coisas de se estabelecer uma data para ser considerada símbolo fundacional as opiniões atropelam-se segundo especializações, caprichos e gostos. Todos sabemos que a língua portuguesa já era falada antes da existência de tal documento, argumento que linguistas usam para manifestar discordância em relação à data. Só que, se a língua portuguesa se restringisse à oralidade, provavelmente já teria desaparecido…
A data pode ser discutível, mas, à falta de outra melhor ou irrefutável, que seja esta uma possibilidade de festa em torno da língua portuguesa que nos identifica, em torno de uma língua que é plural e diversificada, em torno de uma língua que não tem de estar presa a um Acordo Ortográfico que atrofia e descaracteriza. Como refere José Ribeiro e Castro no Público de hoje (“Língua portuguesa, recurso fabuloso”), “esta festa dos 800 anos também é a festa da vitalidade, imorredoira e crescente, da nossa língua comum de todos os falantes de Português: o Português, língua da Europa; o Português, língua das Américas; o Português, língua de África; o Português, língua do Oriente; o Português, língua do mundo.”
 

Cristina Prata visita a história dos vinhos de Palmela


 
A obra Palmela chão que dá uvas – A terra e o trabalho das gentes (1945 a 1958), de Cristina Prata (Lisboa: Edições Colibri, 2013), um dos mais recentes títulos publicados sobre história local de Palmela, para lá do seu carácter ensaístico (mesmo porque se trata de uma tese de mestrado), tem a vantagem de ter sido escrito por alguém que cresceu, habitou e se entranhou no próprio meio que decidiu estudar e conviveu com as pessoas que têm sido as responsáveis por esse “dar uvas” que a terra de Palmela tem como característica.
Com efeito, Cristina Prata começa justamente por assinalar essa ligação ao meio, afirmando a sua identidade, valendo a pena reparar nessa ligação profundamente afetuosa e sensível, mesmo que num excerto um bocadinho longo: “A escolha de estudar a agricultura terá origem nas minhas próprias raízes. Nascida em Cabanas, na freguesia de Quinta do Anjo, filha e neta de gente que trabalhou a terra, guardo nos cinco sentidos das minhas memórias de menina os sinais do movimento de cada uma das estações do ano. A Primavera, com o azul das caldas que pintava os pios, durante o tratamento das vinhas, e a chegada das flores e dos bandos de pássaros aos pomares. O Verão, na abundância da cor e do sabor dos pêssegos, das ameixas e dos figos e também do intenso calor, amenizado pela frescura da água das regas, cujos tanques tantas vezes substituíram a praia. O Outono, com a acidez das tângeras, a chuva e o cheiro da terra molhada, pronúncias de mais um ciclo de trabalhos na terra, mas também na escola. E finalmente o Inverno, sempre demasiado longo, da escuridão dos dias, da nudez das árvores e da lama da terra lavrada. Tudo isto, que é o princípio, agradeço à minha família.”
Ao longo de duas centenas de páginas, o leitor passeia pela história e pela região, lendo notícias e opiniões colhidas na imprensa local, conhecendo dados estatísticos, seguindo o estudo e análise aturados da autora, encontrando personagens e acontecimentos que fizeram a narrativa de Palmela, desfazendo mitos e descobrindo saberes, vasculhando arquivos, caminhando por terrenos como Rio Frio ou a Quinta da Torre, assistindo à criação da Adega Cooperativa e, sobretudo, ouvindo e convivendo com as pessoas que regaram a terra com o esforço e o suor, porque, afinal, “são as gentes o objecto primordial da análise”.
Mas este contar é também o relato de uma das facetas da história da agricultura, sobretudo naquela vertente da inegabilidade do princípio de que “a terra molda a vida de quem a habita”, num casamento perene com o trabalho braçal, com o esforço dado pelo saber e pelo entendimento “da” e “com” a Natureza ou no jogo de relações entre o campo e os organismos estatais como os Grémios da Lavoura ou a Junta Nacional do Vinho.
A escolha do título e do subtítulo da obra de Cristina Prata prova que as expressões populares escondem muito mais do que aquilo que são os significados das palavras. Se o título é feliz, não é apenas por afirmar uma condição do presente, antes é por mostrar que, sob o manto das frases feitas, está o labor humano, partilhado, tornando-se mesmo interessante a abordagem sociológica que a investigação vai exigindo – é que, mesmo nos trabalhos do vinho, a questão do género impunha regras: “aos homens cabem tanto as tarefas fisicamente mais duras, as lavras que revolvem as terras preparando-as para o plantio, como as mais minuciosas, traduzidas pelas podas e enxertias, cuja execução não só interfere na fertilidade da planta, como também lhe molda o desenvolvimento. (…) À mulher cabe apenas a colheita da uva e outras tarefas, cuja execução traduz quase um prolongar das competências da sua vida doméstica: limpar as vinhas dos sarmentos (…) e alimentar de água os pulverizadores com os quais os homens protegem as plantas.”
A abordagem sociológica passa ainda pelas marcas de sazonalidade ou pelo ambiente migratório que o trabalho das vinhas e do vinho exige (aspetos determinantes para o crescimento populacional do concelho), bem como por essa junção mágica responsável pela associação do trabalho e da festa, pelas identidades de “caramelos” e de “malteses” ou ainda pelas raízes e laços que se criam em função do sentimento de posse da terra.
Cristina Prata não conta apenas a história, antes a problematiza para que o leitor não seja levado a incorrer em ilusões sobre a ruralidade, sobretudo num tempo marcado pelas vertentes de lógicas nem sempre compatíveis como são a ruralidade e a industrialização. E, a terminar, a pergunta fica, repleta na sua inquietação, convidativa pela interpelação que faz a todos e a cada um dos leitores: “Hoje promovemos e perpetuamos a memória do rural mítico e bucólico, que o Estado Novo sempre encenou, ou o rural de quem realmente lá viveu, trabalhou e do qual tantos fugiram logo que o puderam fazer?”
Podemos procurar neste livro a história da região vitivinícola, os dados que transformaram esta terra num dos expoentes da produção de vinhos de qualidade elevada, a própria forma como o concelho foi evoluindo ao sabor das políticas de investimento ou de fomento. Mas mais importante parece ser o contacto com as gentes, o registo dos dizeres e dos saberes daqueles que amanham a terra e educam a vide, o saber estar e ouvir a experiência em primeira mão e o transformar esses dizeres e aprenderes em matéria de investigação, de estudo e de exemplo. É isso que Cristina Prata nos proporciona, com sensibilidade, bom gosto e ternura e em linguagem acessível.
Muitas razões para que este livro seja lido!

Para a agenda: Cristina Prata, "Palmela, chão que dá uvas"

 

Hoje, na Casa Mãe da Rota dos Vinhos, em Palmela, pelas 17h00, Cristina Prata apresenta o seu estudo Palmela - Chão que dá uvas. Uma obra escrita com confessado carinho. Para a agenda.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Rostos (194) de Setúbal

 




 
"Rostos de Setúbal", por  Filipe Ferreira, em Setúbal, junto à Praia da Saúde (Parque Urbano de Albarquel), obra incluída no projecto "Somos todos Alegro - Arte em toda a parte"

Para a agenda - Onésimo Teotónio Almeida em Setúbal

 

Na tarde de Sábado, Onésimo Teotónio Almeida, professor, escritor e excelente conversador, estará na Culsete, em Setúbal, para falar do seu mais recente livro, Pessoa, Portugal e o Futuro. Por certo, uma sessão a não perder! Para a agenda.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Marco dos Rotários em Palmela

 
 
O movimento rotário conta com mais um marco, desta vez a assinalar a sua dinâmica em Palmela. Situado na Avenida da Liberdade, o marco do Rotary Club de Palmela foi inaugurado em 14 de Junho, em cerimónia que contou com a presença do presidente da Câmara Municipal, Álvaro Amaro, e do governador rotário Fernando Martins.


Palmela em homenagem religiosa

 
 

Desde 15 de Junho, os paroquianos de Palmela têm, à entrada da vila, marca da homenagem feita a Nossa Senhora de Fátima. A obra de arte foi benzida pelo prelado sadino, D. Gilberto Canavarro.


segunda-feira, 16 de junho de 2014

No rasto de Gavrilo Princip

A revista Ler, da Fundação Círculo de Leitores, acaba de entrar na sua 3ª série com a recente publicação do nº 134, alusivo a Junho.
Entre as obras a merecerem divulgação nesta edição conta-se o título de Tim Butcher, O gatilho (a ser publicado brevemente com a chancela da Bertrand), de que a revista publica capítulo (páginas 106-117) sob o título “Tudo estava preparado para começar em Sarajevo”. É, obviamente, a história de Gavrilo Princip, o jovem de 20 anos que, em 1914, quando o mês de Junho estava a acabar, pôs o seu nome na História ao ter disparado sobre o arquiduque Francisco Fernando.
Nesta obra, Butcher propõe-se fazer o percurso de vida de Gavrilo a partir das suas origens, na aldeia de Obljaj, onde contactou com familiares do clã Princip. Duas descobertas importantes: numa pedra, bem próximo das ruínas do que foi a casa da família, o autor confronta-se com a inscrição “G.P. – 1909”, uma “descoberta eletrizante” de algo com a assinatura da personagem em busca da qual Butcher corre. Mais adiante, uma revelação de Mile, um familiar que não chegou a conhecer Princip (nasceu em 1930), sobre a inscrição naquela pedra: «Sempre nos contaram que, enquanto estava a fazer essa inscrição, um amigo seu chamado Spiro Maric lhe perguntou por que razão estava a fazer aquilo. Ele disse que era porque ‘um dia, as pessoas vão saber o meu nome.’»
Uma história que promete e que o narrador faz questão de tornar próxima do leitor, quase como se ambos estivessem na mesma descoberta. E somos levados a ter um olhar de simpatia sobre a personagem que motiva a história… não fosse ela a que disparou o gatilho que aceleraria o início da Primeira Guerra Mundial!