sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Memória: João Lúcio (1922-2008)

Há poucas horas, um amigo telefonou-me a dar a notícia do adeus a João Lúcio. Apagou-se a voz de um homem do futebol, da escrita e da divulgação cultural. Fosse aqui, em Setúbal, fosse em Toronto, entre emigrantes, fosse nas páginas dos periódicos desportivos em que participou.
Há tempos que não o via e, no sábado, no café que João Lúcio costumava frequentar, perguntei ao sr. Francisco o que era feito do “nosso” amigo João Lúcio. Que a doença evoluíra, que não saía de casa há uns meses, que estava mal. Fiquei com pena e com a quase certeza de que não voltaria a vê-lo. E lá está: poucos dias depois, o fim.
De João Lúcio guardo na memória algumas conversas, a voz a dizer poemas (sobretudo Bocage, de que gostava muito), a história de amizade que teve com Sebastião da Gama (foram irmãos na doença da tuberculose), uma entrevista para que me convidou há uns anos para falar da cultura em Setúbal, uma tentativa em que estivemos envolvidos para fazer uma história do Vitória, vários momentos de convívio em torno de actividades culturais à beira-Sado, alguns encontros não combinados no “Trigo Real” a meio da tarde. De João Lúcio guardo (e estimo) a memória.
[foto: a partir do livro de Jaime Monteiro (irmão de João Lúcio), Um passado recente (Setúbal: ed. Autor, 2007)]

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Entre o papel selado e as siglas, a escola?

Sob o título “Ressuscitem o papel selado!”, Santana Castilho escreve no Público de hoje sobre a burocracia que invade as escolas e em que ninguém que esteja de fora parece acreditar. Transcrevo os dois parágrafos finais, que, além da opinião, valem como amostragem…
«(…) Os professores sufocam com tarefas administrativas e reuniões. Há reuniões de todo o tipo: de coordenação de ano, para conceber testes conjuntos, para desenhar grelhas, para analisar resultados, de conselho pedagógico, com encarregados de educação, com alunos, para preparar as actividades de estudo acompanhado, de formação cívica, da área de projecto, de tutoria, de apoio educativo, de recuperação de resultados, de superação de necessidades educativas especiais, etc., etc.
Os papéis não têm fim. Tenho à minha frente seis folhas de um documento intitulado Coordenação de Ano de um agrupamento de escolas. Para o interpretar tive que me socorrer de um glossário. Aqui fica a tradução das siglas, omissão feita às que não consigo decifrar: CE (conselho executivo); CA (conselho de ano); PRAE (Plano de Recuperação e Apoio Educativo); PCT (Projecto Curricular de Turma); CGAS (critérios gerais de avaliação somativa); AEC (actividades de enriquecimento curricular); PTT (professor titular de turma); TIC (tecnologias de informação e comunicação); PGEI (Programa de Generalização do Ensino de Inglês); CAA (comissão de acompanhamento alargada); CAR (comissão de acompanhamento restrita); SPAEC (supervisão pedagógica das actividades de enriquecimento curricular); CEI (currículo específico individual); UAM (unidade de apoio à multideficiência); PAA (Plano Anual de Actividades); PA (plataforma do agrupamento); CAD (comissão de avaliação do desempenho). Chega? Não! Por favor, Madre Lurdes e Santo Valter, ressuscitem o papel selado!»

"A turma", de François Bégaudeau

O filme chegou hoje aos cinemas, o livro já anda por aí a circular há dias (François Bégaudeau. A turma. Col. "Ficção Universal". Trad.: Isabel St. Aubyn. Alfragide: Dom Quixote, 2008). É o tempo de um ano lectivo numa escola pública de Paris, com alunos em que o multiculturalismo é constante. As aulas são de Francês, língua não materna; o professor é francês, os alunos são dos mais diversos cantos e continentes.
A história corre rápida e é construída sobre as histórias do quotidiano, em sequências de diálogos que trazem as cores dos dias (e das aulas). As relações entre alunos ou do professor com os alunos são tensas, com a palavra a denotar a agressividade, o respeito (ou a falta dele), o interesse (ou não) pela escola, a ética, o espírito de turma, a contestação, a relativização de valores, as (des)motivações.
Entre les murs é o título original desta narrativa datada de 2006, agora traduzida para português e agora chegada ao cinema (realização de Laurent Cantet), com “Palma de Ouro” de Cannes neste ano. Dentro dos muros da escola, em que se sucedem as questões e os conselhos disciplinares, as chamadas de atenção, as provocações, em que é fácil ditar a expulsão de um aluno, em que é comum o conflito, perpassam o racismo e o (des)valor do outro, o consumismo, a aculturação, a emigração clandestina, o ambiente suburbano, as hipóteses do futuro da Europa.
Duma ponta à outra da história é o jogo entre duas equipas: de um lado, Souleymane, Khoumba, Djibril, Frida, Dico, Jingbin, Mohammed, Dounia, Sandra, Mezut, Hinda, Amar, Ming, Alyssa, Soumaia, Kevin, Fayad, Hakim e tantos outros, os alunos; do outro, Bastien, Chantal, Claude, Danièle, Élise, Gilles, François, Géraldine, Jacqueline, Jean-Philippe, Julien, Line, Luc, Léopold, Marie, Rachel, Sylvie e Valérie, os professores. E chega-se ao final com a sensação de empate.
Pelo meio, em que muitas personagens são identificadas pelos símbolos que usam (vestuário e ícones) encostados ao nome, há um contínuo saltitar da bola, às vezes forte e brusco, não se sabendo bem onde irá ela pontuar. Dos dois lados se corre por um caminho cada vez mais estreito, ao mesmo tempo que a escola se questiona (a dado passo, uma página é preenchida com 22 perguntas para reflexão na escola, em que a primeira é “quais são os valores da escola republicana e como proceder para que a sociedade os reconheça?” e a última é “como formar, recrutar, avaliar os professores e organizar melhor a sua carreira?”). Chega a ser útil tentar saltar os muros para ver a vida no exterior…
A ironia, que em dado capítulo o professor tenta explicar aos alunos enquanto recurso estilístico, percorre também muitas das conversas, uma ironia que mostra o que a escola também é. E, ironia das ironias, o tempo em que a história decorre traz também à memória um outro jogo em que Portugal entrou… – «“Hakim tu deves saber isto: quando se realiza exactamente o desafio de abertura?” Hakim levantou o nariz do papel, interrompido na contagem das cenas do acto II. “É no sábado. Às dezassete horas. Portugal-Grécia.”» Estava-se, pois, em 2004 e o tal sábado caía em 12 de Junho, em que a selecção portuguesa no “Euro” começaria a esmorecer frente a uma Grécia, perdendo por 2-1… Ironicamente também, a história conclui-se com um jogo de futebol entre turmas.
Frases vivas
Sanções por pontos – “A vantagem do sistema de pontos é a da carta de condução: o aluno sabe quando a sanção se aproxima, o que é um incentivo para se acalmar. O inconveniente é o da carta de condução: enquanto restarem pontos pode prosseguir quase impunemente.”
Respeito – “Um adolescente aprende aos poucos a respeitar os professores por causa das ameaças destes ou receando criar problemas.”
Genética – “Se alguma vez descobrirem que o gene do crime existe, há muitas coisas que vão mudar. Porque quem sabe como proceder para com as pessoas que possuam tal gene? Para já, dos que mataram, diz-se sempre que a culpa foi de algum modo deles, mas também de muitas outras coisas, circunstâncias atenuantes, como se costuma dizer. Acredita-se que não recomeçarão, se forem ajudados. Mas se possuírem o gene, então significará que não têm cura, e então que fazer? Serão sempre presos, ainda antes de cometerem algum crime.”
Poder – “Organizar o caos para construir o poder é apaixonante.”
Saber – “Não é grave não compreender tudo. Ninguém compreende tudo. Mesmo eu, às vezes, só compreendo metade do que digo. (…) O que importa é fazer o máximo possível, e depois se vê.”
Fazer – “Já todos nós fizemos coisas de que nos envergonhámos.”
Aprender – “Só aprende quem quiser aprender, quem estiver inscrito num projecto.”
Mundo – “Todos os homens são mentirosos, inconstantes, falsos, faladores, hipócritas, orgulhosos e cobardes, desdenhosos e sensuais; todas as mulheres são pérfidas, artificiais, vaidosas, curiosas e depravadas; o mundo não passa de um esgoto sem fundo onde as focas mais disformes rastejam e se contorcem em montanhas de imundície, mas há no mundo uma coisa sagrada e sublime, é a união de dois destes seres tão imperfeitos e tão horríveis. Somos muitas vezes traídos no amor, muitas vezes magoados e muitas vezes infelizes; mas amamos, e quando estamos à beira da cova, voltamo-nos para olhar para trás, e pensamos: sofri muitas vezes, enganei-me algumas vezes, mas amei. Fui eu que vivi e não um ser fictício criado pelo meu orgulho e o meu tédio.”

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Nos caminhos das aposentações

Há dias, li a mensagem do Mata Fernandes sobre a sua entrada no tempo da aposentação. É um misto de sensações contraditórias, que se sente em quem gostou de ser professor, em quem poderia continuar a ser professor, em quem parte, na senda do descontentamento e da tristeza geral que estão instalados no meio docente.
Curiosamente, isso é sentido pelos próprios alunos. Ontem, numa turma de 9º ano, os alunos diziam-me que, na próxima quinta-feira, será o derradeiro dia de aulas da sua professora de uma dada disciplina e a última aula será com eles. Perguntavam-me se achava bem fazerem-lhe uma festa, com flores e outras coisas… Esta professora acompanhou-os nos dois últimos anos lectivos e mais estes meses do ano que decorre. Conheço a turma suficientemente para acreditar e pensar que não são aquele tipo de grupo que quer festas por tudo e por nada; mas também a conheço por ser uma turma sensível, consciente, participativa e unida. Não houve um aluno que discordasse da ideia. E dei por mim a pensar neste amplo sentido da festa… uma despedida com festa, uma entrada na aposentação com festa.
Não fossem as condições que se estão a viver no ensino e não haveria esta sangria que corre entre os mais velhos; fossem as consequências de um tal acto mais a propósito e a sangria seria muito maior, incrivelmente muitíssimo maior. E assim um grupo profissional se descaracteriza ou se transforma, pela maneira menos interessante e também, provavelmente, pela forma menos respeitável. Não é de fugas que se trata, registe-se; é, antes, um não querer participar na sessão que se anuncia para um tempo a vir.
A tensão emaranha-se nas vidas, o ritmo da escola revela picos de acidez. Continuo a defender que a escola deveria ser um lugar feliz, apesar de ver que esse é um desejo – e um objectivo individual, já agora – cada vez mais utópico e que cada vez menos poderei (poderemos) concretizar. O que está a acontecer? O que tem sido exigido que os professores façam é sinónimo do menor interesse pelo trabalho que os mesmos professores têm desenvolvido até aqui. E não haja piedosas intenções de argumentar com o sucesso, o sucesso, o sucesso, o sucesso, o sucesso. Sempre houve objectivos individuais e sempre houve objectivos de um colectivo, de uma escola. E eles passaram, necessariamente, por cativar os alunos para o saber, para a vida, para a responsabilidade, para o empenho, para o saber-fazer, para o ser. E eles passaram pelas aprendizagens dos alunos e dos professores, pelas pedagogias aplicadas e pelos caminhos encontrados, pelas discussões em grupo e pela procura de formação adequada. Houve muitíssimas mais coisas boas do que más, essa é que é a verdade. Onde aprenderam todos aqueles que hoje governam, que hoje são adultos, que hoje são pais, que hoje são professores? Foi em alguma escola diferente daquela que conheceram até ao momento em que esta amargura começou?
Regresso ao postal do Mata Fernandes: reagindo às mensagens que os colegas de Departamento lhe transmitiram na despedida, afirma acreditar nelas, “sobretudo porque elas foram ditas por todos os meus colegas de departamento que eu vi juntos e determinados a continuar de forma coesa a sua missão de ensinar, apesar de tudo o que foi feito para os separar no último ano em que passámos juntos. Contudo, aqui fica o meu alerta para os anos que aí vêm em que uma avaliação condicionada à partida por quotas pode conduzir não a uma pedagogia partilhada mas a uma competição que pode levar ao individualismo egoísta e selvagem.” Este, sim, corre o risco de vir a ser um objectivo individual, em nada consentâneo com a alegria que a escola deve transmitir. Infelizmente!
A propósito: votos de uma boa viagem, Joaquim (de quem não fui colega de Departamento, mas a quem me agrada ter visto envolvido na construção da escola e da educação)!

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Línguas para uma pátria

Sob o título "D. Fonso Anriqueç falaba mirandés?", Amadeu Ferreira escreve no Público de hoje sobre a importância da língua mirandesa no que à memória respeita.
L mirandés de hoije ben de la eiboluçon que tubo la lhéngua de l Reino de Lhion, na tierra de Miranda, al lhargo de cientos de anhos, sufrindo la anfluença de l pertués, de l castelhano i de outras lhénguas, mas mantenendo la sue matriç oureginal: lhéngua filha de l lhatin i pertenciente a la família de las lhénguas stur-lhionesas. Quando l reino de Pertual se custituiu, apartando-se de l Reino de Lhion, yá na tierra de Miranda se falaba lhionés i assi tamien serie ne l mais de l atual çtrito de Bergáncia. L pertués que ende hoije se fala ten muita palabra que bieno de l lhionés pa l pertués, i que ls dicionairos cunsídran, ls mais deilhes, cumo regionalismos stramuntanos.
Cumo ye sabido, l purmeiro rei de Pertual, D. Fonso Anriqueç, era filho dua princesa filha de l rei D. Fonso VI de Lhion, i essa princesa falarie lhionés cumo toda la corte lhionesa desse tiempo, a ampeçar pul rei. Al redror de D. Teresa stában sues aias, tamien damas lhionesas i falando la percipal lhéngua de l reino. Assi sendo, nun puode haber dúbedas de que l filho de D. Teresa, D. Fonso Anriqueç, haberá daprendido a falar l lhionés i serie essa la lhéngua que falaba cun sue mai, las aias que la circában i ls sous familiares lhioneses. Todos sabemos, tamien, que D. Fonso Anriqueç fui eiducado por D. Egas Moniç na region de Lamego, adonde se falaba l galhego-pertués, i tamien tenerá daprendido esta lhéngua, l que nun quier dezir que squecira la outra.
Podemos dezir que quando fui armado cabalheiro, na Catedral de Çamora, arrodiado puls sous familiares, D. Fonso Anriqueç falarie lhionés cun eilhes. L mesmo se haberá passado mais tarde quando assinou l Tratado de Çamora, feito na mesma cidade. Al lhargo de la bida bários cuntatos tubo cun sou primo, rei de lhion, i cun el falarie lhionés. Anque esto nun steia screbido an nanhun decumiento, cuido que dúbedas nun haberá de que assi fui: D. Fonso Anriqueç falaba lhionés, quier dezir, falaba ua lhéngua a que agora le damos l nome de mirandés.
Tal cumo muitos pertueses, que nun l son menos que ls outros, D. Fonso Anriqueç nun poderie dezir "la mie pátria ye la lhéngua pertuesa": a la ua, porque la pátria tubo que la custruir cun lhuita; a la outra, porque l reino que tornou andependiente falaba dues lhénguas, l galhego-pertués i l stur-lhionés, i esta serie tamien la lhéngua percipal de sou cunhado, D. Fernando Mendes II, de Bergáncia, casado cun D. Çáncia Anriqueç, armana de l nuosso purmeiro rei; mas subretodo porque l mito de la lhéngua inda nun habie sido custruído. Todo esto amostra que D. Fonso Anriqueç tenie cuncéncia de las dues lhénguas que se falában ne l reino que fundou, i dambas a dues se puoden cunsidrar cumo lhénguas fundadoras. Apuis desso, las dues lhénguas fúrun cumbibindo al lhargo de cientos d'anhos, i ls mirandeses fúrun adotando tamien la pertuesa, mas la lhéngua mirandesa puode reclamar de haber nacido an brício d'ouro tanto ou mais que la outra. Que bal esso? Mui pouco, yá que l amportante fui que l pobo trouxo la sue fala até als nuossos dies sien ajudas de naide, sien que l stado pertués neilha tenga ambestido un çue. Tratando-se dua lhéngua que stubo tamien na ourige de Pertual i fui falada pul nuosso purmeiro rei, l menos que se puode dezir ye que la gratidon nun ye frol que ls stados i sous gobernos cultíben.

Rostos (94)

"Luís de Camões lê Os Lusíadas a D. Sebastião", em painel de azulejo alusivo à época
de D. Sebastião, por Alberto Cédron, no Jardim Tropical do Monte (Madeira)

sábado, 25 de outubro de 2008

Hoje, no "Correio de Setúbal"

Diário da Auto-Estima – 88
Cunha – “O nosso povo tem o vício ancestral da cunha. Imaginando de antemão que não poderá, pelas vias legais, alcançar o que pretende, serve-se da cunha. E para tudo a utiliza, mesmo quando desnecessário. Simplesmente porque não acredita na justiça, nas leis e nos regulamentos. Isso, pensa o povo, é para os ricos, os poderosos. O pobre só sobrevive com a cunha.” (José Leon Machado, 2008).
Guerra – “A próxima guerra será silenciosa, esteticamente organizada, não haverá necessidade do ruído desagradável das bombas e da visão traumática e em último caso perfeitamente dispensável das cidades arrasadas, porque as cidades ficarão intactas, só as pessoas e os seres vivos morrerão, mas em silêncio, sem estertores nem gritos, nem nada de excessivo ou patético, tudo será eficiente, limpo, límpido.” (Teolinda Gersão, 1981).
Noite – “Bem sei que a noite não é a mesma coisa que o dia; que todas as coisas são diferentes, que as coisas nocturnas não podem ser explicadas de dia, pois de dia não existem, e que a noite pode ser terrível para os solitários, desde que sintam que o são.” (Ernest Hemingway).
E-mail – “O correio electrónico – Alucinante, o despacho desta correspondência. Não me apaga, porém, saudades do tempo em que se manuscreviam cartas e não só as cartas de amor. Nada mais pessoal que a caligrafia, a letra de cada pessoa é identificação e intimidade. Os próprios prosadores e poetas conquistados pela desenvoltura do computador não deixarão nos espólios o cunho da caligrafia, o testemunho dos retoques e emendas que ilustrem a criação das suas obras.” (Mário Zambujal, 2008)
Economia – “A humanidade nunca foi tão rica e tão pobre ao mesmo tempo. A pergunta que importa fazer tem dois mil anos: o ser humano é para a economia ou a economia para o ser humano?” (Frei Bento Domingues, 28.Setembro.2008).
Poesia – “Toda a verdadeira poesia é um frémito diante do mistério ou da injustiça; um pressentimento do que está ou devia estar para além da apreensão imediata, da complexidade vibrante das coisas e do tempo, de tudo o que a ciência e a filosofia procuram depois de desvendar e resolver.” (José Rodrigues Miguéis).

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Rostos (93)

Busto de José Maria dos Santos, em Pinhal Novo

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Os computadores das nossas vidas

É claro que, cada vez mais, não dispensamos os computadores. E, se eles nos faltam, sobretudo quando são instrumentos de trabalho, o estorvo é grande. Mas já andamos a ficar fartos de tanto computador como notícia: foi o choque tecnológico (apesar de parecer que, por vezes, as coisas demoram cada vez mais a ser resolvidas e a burocracia continua), foi a história do "Magalhães" (aliás, as histórias) e é agora o caso do desaparecido computador de Miguel Sousa Tavares (a que o Público de hoje concede página inteira). Que seria de nós sem estas notícias sobre os computadores? Talvez não estivéssemos num país com um "choque tecnológico" a sério...

domingo, 19 de outubro de 2008

Rostos (92)

Na fachada do Gran Teatro, em Huelva

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Padre António Vieira no voo da "Nova Águia"

Depois de ter dedicado o seu número inaugural à ideia de Pátria, a revista Nova Águia (Sintra: Zéfiro, nº 2, Outubro de 2008) traz para tema “António Vieira & o futuro da lusofonia”, bem pertinente, quer pelo aniversário vieirino que decorre, quer pela essência da lusofonia em si mesma.
A colaboração é vasta, diversa e rica. Sobre António Vieira escrevem: Adriano Moreira (“O centenário de Vieira”), Aníbal Pinto de Castro (“Vieira, uma personalidade e um texto de perene marca barroca”), Arnaldo do Espírito Santo (“O corpo e a sombra”), Carlos Dugos (Metáforas do V império e outras utopias”), Cátia Miriam Costa (“O verbo vieirino”), Dione Barreto (“O Sermão do Espírito Santo e a individuação: As vozes de Padre António Vieira e C. G. Jung”), Dirk Hennrich (“As lágrimas de Vieira e a tristeza tropical”), Pinharanda Gomes (“Uma ‘arte de pregar’ à sombra de Vieira”), Jorge Martins (“O filo-semitismo de António Vieira”), José Eduardo Franco (“O padre António Vieira e a Europa”), Lélia Parreira Duarte (“A arte irónica de Vieira e o Quinto Império de Portugal”), Luís Loia (“O padre António Vieira e o conhecimento dos futuros”), Maria Cecília Guirado (“Notícias do Brasil no século XVII: Vieira e a globalização”), Miguel Real (“O cabalismo do ano de 1666 em padre António Vieira”), Nuno Rebocho (“Memória de António Vieira na Cidade Velha”), Paulo Borges (Padre António Vieira: Génio e loucura”), Samuel Dimas (“A história escatológica do padre António Vieira: As três vindas de Cristo”), Sérgio Franclim (“A vida e o quinto imperialismo de padre António Vieira”), António Saias (“Um papo com Vieira”), texto colectivo intitulado “Valeu a pena?” e Manuel Ferreira Patrício (O padre António Vieira, a lusofonia e o futuro do mundo”).
Sobre a lusofonia assinam: Rui Martins (“Do futuro da lusofonia”), Ana Margarida Esteves (“Portugal e a lusofonia como propulsores da inovação social: a necessidade faz o engenho”), Mara Ana Silva (“A língua portuguesa é o mar que une a terra: a aliança entre homem e Deus”), Artur Alonso Novelhe (“Uma perspectiva galega do futuro da lusofonia”), Cristina Leonor Pereira (“2008: é novamente a hora!”), Eurico Ribeiro (“Portugal, que missão?”), Flávio Gonçalves (“Lusofonia, o pan-latinismo e a Eurásia como alternativas ao atlantismo”), Joaquim M. Patrício (“Realidades, desafios e futuro da lusofonia”), Paulo Feitais (“Das flores aos frutos: o futuro do mundo lusófono”), Renato Epifânio (“A língua-filosofia portuguesa como uma via aberta”), Rita Dixo (“Da língua portuguesa como imagem da nossa alma”) e Carlos Magno (“Lusofobia”).
Há ainda espaço para mais rubricas (poesia, crítica, pensamento), aí não esquecendo vários retratos sobre a revista, em que intervêm Miguel Real, Pedro Teixeira da Mota e Renato Epifânio, com textos que serviram para apresentação da revista e que relatam a história mais recente deste projecto. Entretanto, o tema do terceiro número da revista surge anunciado como “O legado de Agostinho da Silva 15 anos após a sua morte” (a sair em Abril de 2009).

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

A generalização da loucura

No Público de hoje, sob o título "Como é possível a generalização da loucura?", escreve Santana Castilho: «(...) Em 2007 reformaram-se cerca de 3300 professores. Este ano já vamos em mais de 5000 e o ritmo parece estar a acelerar. É só ver as longas listas do Diário da República. Os testemunhos, chapados na imprensa, de docentes que aceitam penalizações gravosas de 30 e 40 por cento sobre pensões de reforma para toda vida, ao mesmo tempo que reiteram o amor a uma profissão que, garantem, abraçaram por vocação e só abandonam por coacção, transformam um processo de reforma num processo de excomunhão. Um país maduro estaria hoje a reflectir aturadamente sobre o que Fernando Savater escreveu: "A primeira credencial requerida para se poder ensinar, formal ou informalmente e em qualquer tipo de sociedade, é ter-se vivido: a veterania é sempre uma graduação."
A vida dos professores nas escolas tem-se vindo a transformar num inferno. A missão dos professores, que é promover o saber e o bem colectivo, está hoje drasticamente prejudicada por uma burocracia louca e improdutiva, que os afoga em papéis e reuniões e os deixa sem tempo para ensinar. A carga e a natureza do trabalho a que se obrigam os professores são uma violentação e um retrocesso a tempos e a processos que a simples sensatez reprova liminarmente. Ocorre, então, a pergunta: como é possível a generalização da loucura?
(…) A experiência mostrou-me que o problema do ensino é demasiado sério e vital para o abandonarmos ao livre arbítrio dos políticos. "Bolonha", a que este Governo aderiu, ou a flexibilização das formações, que este Governo promoveu através do escândalo das "novas oportunidades", não se afastam, nos objectivos, dos tempos da submissão ao evangelho marxista, ou seja, os interesses das crianças e dos jovens cedem ante a ideologia dominante e o resto só conta na medida em que seja eleitoralmente gratificante. Assim, contra a instauração de um regime de burocracia e terror, para salvaguardar a sanidade mental e intelectual dos professores, encaro o protesto e a resistência como um exercício a que ninguém tem actualmente o direito de se furtar.»

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Do contribuinte (pese embora a questão de género!)

Chegam os dois e sentam-se na mesa ao lado. O empregando estende-lhes a ementa e, depois de troca de impressões, encomendam as respectivas refeições. Um deles folheia o jornal...
-Ó pá, já viste isto? Tu já leste as notícias de hoje?
-Sim, vi na net, mas os gajos não deixam que a gente leia as notícias todas. A umas temos acesso, a outras não... Só li as gordas... [Para mim, penso que uma assinaturazeca lhe daria algum jeito.]
-E isto do fisco... Os gajos vão enviar e-mails a 10 mil contribuintes... Como é que tiveram acesso a isso? Vão apertar o cerco...
O companheiro acenava com a cabeça e, de vez em quando, careteava porque não se pode concordar com tudo. O outro, o leitor, lá retransmitia o que lia. Que iam apreender os documentos dos carros, que iam começar pelos carros. Que as receitas das dívidas iam subir, tinham que subir. Que os contribuintes isto, que os contribuintes aquilo...
-Ó pá, só falta levarem a mulher ao contribuinte!...

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Rostos (91)

Quilómetro zero, no Cabo de S. Vicente

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Da (não) reprovação

O leitor Santana-Maia Leonardo tem uma carta divulgada no Público de hoje sobre a questão das reprovações no ensino básico. A questão é pertinente, sobretudo depois de se ter passado um período de discussão sobre facilitismos em exames, sobre avaliações para o sucesso ou para a estatística, sobre necessidade ou não de haver alunos que reprovam, sobre o mal-estar que tudo isto junto gera.
As propostas de avaliação feitas por um docente valem a apreciação sobre o andamento do estudante na respectiva disciplina, aí incluindo as atitudes e os saberes que são inerentes à mesma. Um Conselho de Turma aprova as propostas, muitas vezes com discussão e daí sai uma avaliação para o aluno. Se o aluno reprova ou não, essa deveria ser uma questão de política – como o é, de facto, uma vez que não é o Conselho de Turma nem a escola quem define o número de notas positivas necessário para um aluno progredir, assim como não decide o contrário. O princípio de que um aluno reprova com dois níveis abaixo de 3 tem o mesmo valor que aquele que defende que o aluno reprova com quatro níveis inferiores a 3 ou que o aluno não reprova nunca. Questão de números e de imagens forçadas, apenas, sobretudo numa sociedade em que o sucesso se mede na fronteira entre o 2 e o 3, com todos os problemas daí advenientes, como sejam o de ser pouco valorizado o esforço e o trabalho ou o de fazer tudo pelo mínimo!...
Daí que me pareça sensata a proposta do leitor do Público: “se os alunos não reprovassem, as classificações atribuídas pelos professores poderiam reflectir o verdadeiro nível atingido pelo aluno a cada disciplina, permitindo dessa forma a qualquer pessoa (aluno, pai, professor, analista, empregador, ministra, etc.) interpretar os resultados, tomar medidas e extrair daí as consequências. Neste caso, se um aluno quisesse terminar a escolaridade obrigatória com nível três, não lhe bastava ficar sentado no seu lugar à espera que o tempo passasse, teria de trabalhar e de se esforçar para isso, caso contrário terminava com nível um. Além disso, isso valorizava e credibilizava, inevitavelmente, os certificados de habilitações, evitava que os repetentes se amontoassem nas turmas à espera da sua hora de passar sem fazer nada e permitiria à ministra e à escola encaminhar e apoiar os alunos com nível um e dois, com vista à sua recuperação.
Sempre estaríamos num caminho que chamava mais a atenção para o empenhamento de todos (e de cada um), aí incluindo estudantes, famílias, escolas, aí incluindo a sociedade, que, como se sabe, não gosta de ser tabelada por baixo!

domingo, 12 de outubro de 2008

Marçal Grilo e algumas amarguras na educação

A propósito da Futurália (Feira da Juventude, Qualificação e Emprego), que vai ter lugar em Lisboa entre 10 e 13 de Dezembro, Marçal Grilo, que preside à Comissão Consultiva do evento, teve entrevista publicada no Expresso de ontem, no suplemento “Emprego”.
Respondendo à questão sobre as áreas que lhe causam maior preocupação no panorama educativo, disse: “Preocupam-me alguns currículos nos cursos de formação de professores. Devíamos ter uma componente, designadamente para os professores dos primeiros anos de escolaridade, com maior incidência na componente científica. Além disso, verifica-se também um grande afastamento em áreas como a Matemática, as Ciências e as Tecnologias. E esta é uma matéria muito sensível porque temos alguns desencontros estruturais a este nível. Precisamos de mais gente nas áreas de tecnologia, ciências e engenharia. Preocupa-me também a atitude que muitos compatriotas têm em relação à escola. Eles não olham para a escola como algo que possa ser relevante para o futuro dos seus filhos, como um instrumento de aprendizagem, mas mais no sentido de a ultrapassar. Preocupam-se sobretudo que os miúdos passem e não tanto com o que eles sabem. Confesso que me inquieta também uma certa deterioração das relações entre os vários parceiros. Já o disse publicamente e faço votos para que este clima não regresse, pois isso reflecte-se no ambiente vivido nas escolas e quem sai prejudicado são as crianças e os jovens.”
Mais adiante, falando sobre o sucesso, essa palavra mágica que parece resolver todos os problemas do universo e que parece ser o único objectivo a atingir pela sociedade, considerou o ex-Ministro da Educação: “É preciso também perceber o que se pretende com o sucesso nas escolas. Para mim, o sucesso traduz-se nos alunos saberem mais, terem maior consciência das suas capacidades e uma atitude diferente perante o mundo e a sociedade.” O facto de 60% da população portuguesa ter o máximo de seis anos de escolaridade mereceu-lhe o seguinte comentário: “Isso é uma falha terrível que não fomos capazes de equacionar depois do 25 de Abril. A minha geração vai ficar aqui com um peso na consciência por não ter sido capaz de motivar os jovens para a educação. Houve muita euforia mas faltou isto. Não é admissível que tenhamos estas taxas de insucesso e de abandono escolar.”

sábado, 11 de outubro de 2008

Hoje, no "Correio de Setúbal"

Diário da Auto-Estima – 87
Dia Mundial do Professor – No dia 5 de Outubro passou o Dia Mundial do Professor com o lema, proposto pela UNESCO, de “eles contam”. Da mensagem desta organização destaco dois princípios: 1) “Ao longo do processo de elaboração das políticas, é essencial garantir o diálogo social entre as partes, nomeadamente entre os decisores, os professores e as suas organizações. O diálogo social contribuirá para criar um consenso e um sentimento de apropriação a nível nacional, tendo em vista uma maior eficácia na adopção de políticas relativas aos professores”; 2) “É necessário que o papel dos professores na promoção de uma educação de qualidade para todos seja claramente definido e expresso em políticas encorajadoras da constituição de um corpo docente motivado, estimado e eficaz”. A gente lê e pensa que esta é uma mensagem vinda de algum paraíso… aliás, tão distante e inacessível que por cá quase não se falou do Dia Mundial do Professor. Bem sei que temos o nosso feriado nesse dia, mas esse não pode ser motivo para ofuscação, mesmo porque sabemos qual tem sido a preocupação republicana com a educação, pelo menos no ideário… A propósito, poderia ser visto se o ambiente que se vive entre professores nas escolas neste momento é tão propício a esta apropriação defendida pela UNESCO, a esta partilha de responsabilidades na causa educativa…
Matemática e Língua Materna – Afinal, não é só por cá que a língua materna e a matemática constituem o calcanhar frágil da educação. Em Inglaterra, por exemplo, passa-se o mesmo e, que se saiba, a língua materna de lá não é o português e também consta que a gramática inglesa é mais fácil do que as gramáticas das línguas latinas… Quem falou sobre esta dificuldade em Inglaterra foi o Secretário de Estado da Educação Jim Knight, há dias, em Lisboa: “A Matemática e o Inglês são as disciplinas onde os alunos têm maiores dificuldades. Aos 11 anos, há muitos alunos com dificuldades na leitura e na escrita, o que não pode ser.” Também aqui valeria a pena haver algum estudo para se detectar até que ponto as facilidades têm contribuído para as dificuldades de duas áreas que são essenciais ao ser humano – o raciocínio e a língua.
Pluralismos – Curiosa, muito curiosa, a noção de pluralismo que grassa no Partido Socialista. Há dias, Alberto Martins dizia que tinha sido decidida a disciplina de voto na bancada do seu partido quanto ao casamento entre indivíduos do mesmo sexo. Mas, para que não se ficasse a pensar que o pluralismo não existia, foi também explicado que um deputado que já liderara a respectiva juventude partidária tinha liberdade de voto, em virtude de já ter sido o rosto da questão. E, para que não houvesse dúvidas, esta excepção foi explicada como sendo uma prova do pluralismo dentro do partido. Ficam-me sempre dúvidas: quem impõe a disciplina de voto? até que ponto se disciplinam por igual as diferentes consciências? porque é que para decidir coisas das vidas privadas tem que haver disciplina de voto?
António Matos Fortuna – Já há tempos disse ser António Matos Fortuna uma das personalidades regionais que mais admiro. A caminho dos 78 anos, Matos Fortuna deixou o nosso convívio em Março passado. Ficou a memória do historiador local, do curioso inexcedível, do amigo sincero, do lutador incansável. Ficou a memória da genuinidade feita pessoa, da disponibilidade e partilha feitas momento, da simplicidade e do saber feitos caminho. Foi, por isso, com muita alegria que soube que o Grupo dos Amigos do Concelho de Palmela está a promover, com outras associações, a construção de um busto que lembre António Matos Fortuna, a ser erigido na sua terra, Quinta do Anjo, com data marcada para 1 de Novembro, também dia de festa na aldeia. Este gesto está aberto à colaboração de quem queira, pois existe subscrição pública para o efeito. António Matos Fortuna, que me honrou sendo meu amigo e deixando que fosse seu amigo, bem merece esta distinção!

Homenagens a professores

Primeira - No final da tarde de 6ª feira, estive na recepção à comunidade educativa promovida pela Câmara Municipal de Palmela, que teve lugar na Escola Básica de 1º Ciclo de Aires (Palmela). Como habitualmente, houve o bem receber por parte da autarquia; como habitualmente, houve a homenagem aos professores que, ao longo do ano lectivo passado, se aposentaram no concelho; como não era habitual, o número de professores nesta última condição atingiu nesta sessão as duas dezenas. Fruto da época, dir-se-á. É claro que sim. Mas entristeceu-me perceber que alguns destes professores continuariam a exercer a sua profissão se não fosse a ideia que se abateu nos últimos tempos sobre a classe docente. Sei isso porque alguns foram meus companheiros de trabalho e sei o quanto à escola e à educação se dedicaram, assim como sei a amargura com que saíram, alguns fazendo anteceder o seu tempo de aposentação, ainda que com prejuízo próprio... É que não estiveram para mais! A homenagem foi um gesto lindo; a razão por que a tiveram foi o percurso de uma vida, muito dele passado no concelho de Palmela; o motivo por que alguns estiveram no lugar de homenageados foi o gesto da sua revolta e da sua indignação.
Segunda - No JL de quarta-feira, quem ocupou a última página, na já habitual secção da "Autobiografia", foi o designer gráfico Armando Alves, nome bem conhecido no mundo das artes e da edição. A gente lê o seu depoimento, intitulado "Voltar à terra", e sente que este homem reconhece que o engenho do seu caminho se ficou a dever, em grande parte... a professores. Estremocense, Alberto Alves relembra mestres que o ensinaram "não apenas pelos ensinamentos que transmitiam, mas, sobretudo, pela grande simplicidade com que o faziam"; recorda mestres que o ajudaram a encontrar o seu rumo - com destaque para Sebastião da Gama, um dos dois professores que ajudaram a convencer os pais do artista "da importância de [o] enviarem para Lisboa para estudar numa escola que desse acesso às Belas-Artes"; memora mestres que o "ajudaram à formação do [seu] carácter e à abertura de conhecimentos no mundo artístico"; evoca mestres que o ensinaram "a desbravar caminho". É uma homenagem à distância do tempo e da saudade? É. Mas é o resultado de marcas para a vida, daquilo que os professores podem transmitir, para lá de toda a oportunidade que seja trazida pela moda, pelo momento, pelas correntes ou pela política. Também é com isto que se homenageiam os professores e, provavelmente, todos teremos pequenas histórias como estas para contar, seja como estudantes, seja já como professores.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Le Clézio (n. 1940), Nobel da Literatura 2008, hoje

"À Raga, on est pénétré à chaque instant par le sentiment diffus, inexplicable, de la divinité.
Il y a d’autres endroits dans le monde où ce sentiment peut surgir. Dans la lande, en Bretagne, ou dans les ravins au coeur de la forêt vosgienne. En Islande, où l’on est si prés des bouches à feu de la terre, ou encore dans le désert mineral balayé par le vent. J’imagine que la banquise de l’Antarctique peut donner ce sentiment.
À Raga, cela vient de la conjonction d’une nature violente et de la douceur des hommes qui l’habitent. Il y a quelque chose de dénudé dans la pierre noire, la brutalité de la falaise, et en même temps la force des plantes, l’eau en suspens dans l’atmosphère. En résumé, c’est volcanique.
Il n’y a pas de volcans à proprement parler sur Raga. Une légende racontée par Willie Bebé explique pourquoi les volcans sont présents à Ambrym, et absents de Raga. Il y a très longtemps, deux vieillards irascibles habitaient chacun d’un côté du detroit. Un jour, le vieillard de Raga lança un tison enflammé à son rival: “Tiens, ainsi tu n’auras plus jamais froid.” L’autre, en réponse, lâcha une fumée vivante sur Raga: “Tiens, pour te tenir compagnie la nuit!” Depuis ce temps, les volcans brûlent à Ambrym, et les moustiques harcèlent les habitants de Raga.
L’esprit divin imprègne ces îles. L’esprit, et non pas la religion. Sans doute faudrait-il dire ce que Vincent Boulékone dit de la culture en général, et des musées en particulier. Qu’à Raga, c’est l’île tout entière qui est un musée. Et l’île tout entière qui est un temple.
"
Le Clézio. Raga - Approche du Continent Invisible.
Col. "Points" (P1798). Paris: Éditions du Seuil, 2006, pp. 77-78.

Depois de ler uma história em que o narrador é um cão...

O ponto de partida destas citações é o livro Sempre do teu lado – Carta de um cão, de Maria Teresa Maia Gonzalez (Lisboa: Verbo, 2008 - reimp.), uma história de amizade entre um cão (Félix) e o seu dono (Guilherme, entre os 13 anos e o casamento). A história é cativante e Félix, o narrador, no que será o seu derradeiro gesto, conduz o leitor pela vida adolescente de Guilherme.
Felicidade - “Há momentos (…) em que só nos faz falta quem ali está connosco fazendo-nos sentir que, finalmente, ficámos completos, inteiros e tão emocionados de felicidade que mal conseguimos respirar.”
Mar - “A seguir aos astros, o mar é a coisa mais interessante do Universo (…). O mar tem tantos segredos como uma estrela bem antiga.”
Milagre - “Um milagre é assim uma espécie de fenómeno inacreditável que se espera que aconteça sem se acreditar que vai mesmo acontecer. Mas (…) a quem não acredita não acontece nenhum milagre.”
Amor - “O amor só conhece uma regra: amar sempre.”

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

A mega-ficha do Mega-Agrupamento

Há tempos, começou a circular por aí um conjunto de quase 30 páginas que seriam as "Fichas de Registo de Avaliação" de professores do Mega-Agrupamento da Península de Setúbal, tudo em nome da objectividade na avaliação do desempenho docente. A gente lia e ficava a pensar que aquilo era apenas um exercício de especulação. Ainda hoje não sei bem como possa classificar aquele documento, mas pela via eufemística não iria com certeza! O que mais intriga é que ele não vem dos corredores da Avenida 5 de Outubro de Lisboa; vem daqui, das escolas que nos cercam e que conhecemos. Afinal, o excesso de burocracia começa aqui mesmo ao lado. Bem podem os formadores andar a dizer que não se pretende avaliar pessoas, mas sim desempenhos! Bem podem! O dito lote que constitui a "Ficha" pode ser visto aqui. É requerida alguma dose de paciência para levar a leitura até final. E não é recomendável que a mesma se faça depois de um dia de trabalho: é que, com facilidade, podemos desacreditar daquilo que fizemos como sendo o mais próximo do melhor.
Depois de ver a "mega-ficha", socorro-me de uma observação de Domingos Fernandes no opúsculo Avaliação do Desempenho Docente: Desafios, Problemas e Oportunidades (Lisboa: Texto Editores, 2008), quando refere os princípios que as escolas e os professores, os avaliadores e os avaliados devem ter em conta quando implementarem o sistema de avaliação - ao falar da simplicidade, diz: "Qualquer sistema de avaliação estará seguramente condenado ao fracasso se estiver inundado de listas infindáveis de objectivos, de competências, de indicadores, de descritores e de outras coisas do género que, por sua vez, dão origem a outras tantas grelhas ou listas de verificação que tornam inviável qualquer avaliação séria. A avaliação tem de ser o mais simples possível, sem ser simplista, devendo basear-se em conceitos fortes e naquilo que é verdadeiramente estruturante e fundamental. É um erro pensar-se que se pode avaliar tudo. Deve avaliar-se o que é realmente importante e isso é, normalmente, pouco. Não precisamos de muita avaliação. Precisamos de melhor e mais profunda avaliação." Aí está!

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Rostos (90)

Tettis, por Mário Miranda, em Sagres (Fortaleza)

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Sobre o auditório do Largo José Afonso, em Setúbal

Num número dedicado à "requalificação urbana", a revista Arquitectura Ibérica, de Janeiro de 2007 (nº 18), consagrou artigo à Praça José Afonso, em Setúbal, dizendo, sobre o projecto dos arquitectos Manuel Salgado e Marino Frei: "O projecto tem como objectivo a requalificação da Praça, mantendo, dentro do possível, as valências existentes. O palco efémero, que aqui era montado regularmente, é substituído por um edifício definitivo, um grande arco cénico que alberga um auditório ao ar livre com capacidade para 2500 espectadores e as infra-estruturas de apoio necessárias para a realização de espectáculos."
Duvidosa tem sido a adesão da cidade à obra implantada na Praça José Afonso. Uma dúvida que, de resto, tem vindo desde início. Recordo que, em 9 deJaneiro de 2006, o jornal O Setubalense iniciava assim uma peça sobre o auditório construído naquela praça: "Desde Novembro que muitos setubalenses têm vindo a criticar a falta de utilização do anfiteatro do Largo José Afonso, onde ainda não se realizou qualquer espectáculo desde a sua inauguração. Mas, afinal, não foi uma inauguração. A cerimónia que marcou o final da obra de requalificação do Largo José Afonso foi apenas a entrega da obra e a verdadeira inauguração terá lugar em Abril".
Vários meses se passaram, assim, entre a entrega da obra e o primeiro acto público ali realizado. Mas a questão da adesão da cidade ao empreendimento tem-se mantido e prova disso é o texto que Giovanni Licciardello assina em O Setubalense de hoje, sob a forma de carta aos leitores, onde é passado à forma escrita aquilo que muita gente diz e desabafa em conversas de rua. Deixo a transcrição.

domingo, 5 de outubro de 2008

Eduardo Lourenço em sete citações

No Público de hoje, há uma entrevista a Eduardo Lourenço feita por José Manuel Fernandes (do Público) e por Graça Franco (da Rádio Renascença). Aos 85 anos, Eduardo Lourenço reflecte sobre a actualidade e sobre o mundo com a frescura (e também o pessimismo) que o caracteriza(m). Eis sete pensamentos recolhidos dessa entrevista.
Passado – “A fixação no nosso passado é muito de tipo onírico. Mesmo as pessoas menos ilustradas têm impressa a marca do que fomos. Vejam os portugueses emigrados. Na zona onde vivo, Vence, onde os portugueses vieram quase todos da zona de Espinho, quando fazem as suas festas recorrem sempre à simbologia das caravelas. A nossa imagem de marca lá fora ainda é essa, a de gente que descobriu uma parte do mundo. Isso aprende-se na escola, transmite-se oralmente, e ser português é ser o antigo descobridor. E como não temos presente à altura desse tipo de façanhas - nem barcos temos... -, temos imaginação.
Os dois blocos da Europa – “O maior acontecimento cultural da modernidade europeia foi a revolução protestante que dividiu a Europa em dois blocos. Essa linha continua a passar pelo interior da Europa, a dividi-la. São duas Europas, pois não devemos esquecer que as maiores divisões que há dentro das nações são do tipo religioso.
Europa e os outros – “[O] problema (…) das minorias muçulmanas é o principal problema do futuro da construção europeia. Ainda não é muito visível, porque são uma minoria, mas a questão é como poderemos resolver, antes da Europa se afirmar em todas as suas dimensões, o problema de relacionamento com uma civilização com a qual, historicamente, sempre nos confrontámos. Não sou apologista das guerras de civilizações, mas elas existem.
A realidade e a ilusão – “Vivemos hoje tempos melhores do que os que conhecemos no nosso passado recente, e só quem não passou por eles pode desvalorizar esta evolução. Não podemos ser tão pessimistas, talvez tenhamos de reconhecer que os intelectuais, e eu também, sofrem por vezes de um excesso de espírito sonhador, até com uma carga utópica. Depois desiludimo-nos porque a realidade não desaparece e está onde está para nos tirar as ilusões.
Pós-11 de Setembro – “Foi isso o 11 de Setembro, essa espécie de apocalipse virtual. Entrámos numa zona de tempestades onde nos confrontamos com crises como a que hoje vivemos e que há dez ou vinte anos julgaríamos impossíveis de acontecerem. A nossa surpresa também deriva de estarmos habituados a ver o mundo de acordo com os parâmetros do modelo europeu, um modelo que fomos nós, portugueses, sem o saber, que começámos a difundir, e depois vimos como universal. Já o Fernando Pessoa dizia, "a Europa está em toda a parte". Só que essa "toda a parte" não é a Europa nossa, pelo que o triunfo do nosso modelo não foi tão absoluto como imaginávamos, sobretudo no domínio dos valores e dos comportamentos. Outras culturas foram resistindo e hoje estamos confrontados com os desafios que nos colocam.
Primeiro, o religioso – “Devíamos ter presente que, por regra, a primeira expressão da Humanidade em cada país é uma expressão do religioso.
Portugal – “Somos um povo entre os povos, não somos o centro do mundo. Já Camões se tinha apercebido de que éramos uma espécie de milagre... Esse milagre é uma coisa que nos enlouqueceu. Mas todos precisamos de loucura para suportar a vida. Não temos é necessidade de querer estar sempre nas primeiras páginas do mundo.
[foto: Eduardo Lourenço fotografado por Daniel Rocha, no Público de hoje]

Dia Mundial do Professor, hoje

Sob o lema “Eles contam” foi publicada a mensagem para o Dia Mundial do Professor, que hoje ocorre, assinada por Koïchiro Matsuura (UNESCO), Juan Somavia (OIT), Kemal Derviş (PNUD), Ann M. Veneman (UNICEF) e Thulas Nxesi (Internationale de l'éducation). Dessa missiva, transcrevo a parte final, que muito terá a dizer à sociedade a que pertencemos, que muito deverá fazer pensar quanto ao que têm sido os últimos tempos na educação. “(…) Les politiques relatives aux enseignants au niveau national doivent être cohérentes avec les cadres mondiaux et régionaux existants, afin de contribuer à assurer la qualité, à identifier des points de référence en vue d’une plus grande harmonisation - dans un contexte de migration et de mobilité internationales croissantes des enseignants -, et à améliorer le statut et les conditions de travail des enseignants. Elles doivent aussi être alignées sur les plans de réduction de la pauvreté et les politiques éducatives à plus grande échelle. Il est important que les politiques relatives aux enseignants soient fermement ancrées dans les contextes locaux et nationaux, qu’elles soient fondées sur des faits, et qu’elles soient réalistes, afin de faciliter le recrutement et le maintien en poste d’un corps enseignant efficace et assez nombreux. Elles doivent prendre en compte les résultats de la recherche et ses implications à tous les niveaux, ainsi que les capacités en termes de financement et de gestion et les perspectives économiques au plan national. Atteindre le point de référence des années 1990, qui fixait à 6 % la part du PIB à investir dans l’éducation, serait bien venu pour de nombreux systèmes nationaux souffrant d’un financement insuffisant. Un ordre de priorité doit en outre être établi pour les projets et politiques, qui doivent aussi disposer des financements et de la souplesse nécessaires pour répondre à l’évolution des exigences. Par exemple, si le modele traditionnel fondé sur l’enseignement supérieur ne permet pas de fournir en temps voulu un nombre suffisant d’enseignants, des approches novatrices pourraient être adoptées en matière de formation des enseignants, sans qu’il soit porté atteinte à la qualité. Tout au long du processus d’élaboration des politiques, il est essentiel de garantir le dialogue social entre les parties prenantes, notamment les décideurs, les enseignants et leurs organisations. Le dialogue social contribuera à créer un consensus et un sentiment d’appropriation au niveau national en vue d’une mise en oeuvre plus efficace des politiques relatives aux enseignants. Cette question est évoquée dans les recommandations de l’OIT/UNESCO et de l’UNESCO. De nombreux efforts sont déjà engagés afin de renforcer la capacité des principales parties prenantes à participer à l’élaboration des politiques éducatives, mais le renforcement des capacités doit encore s’intensifier.
La Journée mondiale des enseignants est l’occasion de célébrer les enseignants du monde entier, de tous les pays, de toutes les villes et de tous les villages.
Nous affirmons la nécessité de veiller à ce que le rôle des enseignants dans la réalisation d’une éducation de qualité pour tous soit clairement défini et exprimé dans des politiques qui encouragent la constitution d’un corps enseignant motivé, estimé et efficace. En cette Journée mondiale des enseignants, nous les remercions et proclamons qu’assurément, ILS COMPTENT !
"
A mensagem pode ser lida na íntegra no portal da UNESCO.

sábado, 4 de outubro de 2008

Memória: Dinis Machado (1930-2008, ontem)

"Antigamente, eram os barcos. Brancos, azuis e furta-cores, com lanternas penduradas nos cintos dos homens que passavam nas cobertas. E aquém dos barcos: as ondas tinham outra maneira de quebrar, o quebrar de antigamente.. (...) Nasceu a visão dos barcos furta (...) porque os brancos e os azuis sulcavam o horizonte há muito tempo, já eram antes de antigamente, estou a reportar-me aos tempos pré-históricos dos primeiros barcos brancos e azuis que fizeram do mar o que ele é hoje (...). Tão brancos e tão bonitos, tão azuis eram os barcos."
Dinis Machado. Discurso de Alfredo Marceneiro a Gabriel García Marquez. Lisboa: Livraria Bertrand, 1984.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

A escola em discussão - lá andam os manuais escolares na baila...

Há dias, contei aqui uma pequena história que captei numa livraria, a propósito de manuais escolares. O tempo tem passado e andam as águas agitadas quanto ao fornecimento dos ditos manuais de um grupo editorial como "Leya". Na verdade, aquilo a que assisti na livraria não me surpreendeu...
No início de Agosto, fui a uma editora do grupo Leya para adquirir vários manuais escolares, entre os quais o de Matemática de 12º ano para o meu filho. Que não havia, que só a partir de meados do mês. Talvez. No início de Setembro, voltei à editora para o mesmo efeito: do dito manual tinham chegado umas dezenas no dia anterior, mas já não havia; só na semana seguinte. Lá regressei na semana seguinte. Que não havia. Que estava esgotado. Mesmo esgotado? Sim, esgotado. Só contavam com novos manuais na semana seguinte. Entretanto, as aulas já tinham começado. Voltei na dita semana seguinte. E foi um alívio: consegui comprar o desejado manual. Nem quis saber o que se tinha passado ou se ainda havia muitos. Estava, enfim, completo o rol de manuais escolares para a família!
Nunca me tinha acontecido tal. E, desta vez, não foi por atraso da minha parte na compra dos manuais. Também não foi porque as escolas não tenham comunicado às editoras quais os manuais adoptados para este ano lectivo...
É que acabei de ler no Público online que, na próxima semana, o grupo Leya esclarecerá o assunto, notícia que mereceu os seguintes comentários: segundo o vice-presidente da Confap, os atrasos devem-se a uma ruptura de "stocks" que não é gerida entre escolas e editoras; de acordo com a presidente da Cnipe, é o atraso das encomendas por parte dos pais a principal causa pela falha nas entregas, esclarecendo que "quem encomendou em Agosto não teve problemas".
A verdade é que, pelo menos desta vez, não foram os professores os culpados! A verdade é que a justificação do grupo editorial Leya já devia ter vindo. A verdade é que, neste capítulo, o ano lectivo não começou bem. A verdade é que já se está atrasado.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Minudências (29)

Ser plural
Ouvi nas notícias da noite, na televisão, um deputado socialista que dizia ter sido decidida a disciplina de voto na bancada do seu partido quanto ao casamento entre indivíduos do mesmo sexo, tema que vai ser discutido na Assembleia. Até aqui, nada de novo, que a gente já sabe como é que as votações se fazem - é mais a disciplina partidária, mandada por alguém, do que a disciplina de consciência individual. No entanto, fiquei incrédulo com o resto da argumentação do deputado: é que também foi decidido que apenas um deputado socialista, que já presidiu à organização da respectiva juventude partidária, tinha liberdade de voto, em virtude de já ter sido o rosto desta questão. E concluiu o deputado, dizendo que esta abertura provava que havia pluralismo no partido! Nunca tinha pensado no pluralismo como um fenómeno de excepção, mas a gente está sempre a tempo de aprender...

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Rostos (89) [no Dia Internacional do Idoso]

Estatueta em jardim, em Lisboa

Máximas em mínimas (35) [no Dia Internacional do Idoso]

Não há ninguém mais feliz no mundo do que o velho que ainda tem alguma coisa que valha a pena oferecer a um menino.
Gianni Rodari. Histórias ao telefone. Col. “Sésamo” (7). Lisboa: Teorema, 1987, pg. 80